• Carregando...

Uma banda cool, dos cabelos às barbas malfeitas, com um vocalista vestido de porteiro de hotel, meio Sgt. Pepper, e cantando entre a displicência e a fúria. Assim se faz a atração principal de um festival que vasculha o que de mais novo há na música mundial - afinal hype é tudo. O Strokes, que fechou o palco TIM Stage na madrugada de sexta-feira para sábado, não foge à regra. E a descrição que abre o texto é uma das possíveis para a apresentação da banda. Mas não é a única.

Se esquecermos o hype (é possível?) e não pensarmos na postura/pose dos caras (que é ótima), sobra o melhor, a música. No show em que apresentou cinco canções do disco que acabou de gravar, o Strokes mostrou que música pop não precisa - apesar de poder - ser óbvia. Na conversa das guitarras entre si e com o baixo (Nikolai Fraiture) que martela poucas e insistentes notas, na bateria que sabe ser reta ou sinuosa na hora em que tem que ser, o Strokes soa novo em sua roupa velha, modelito Velvet Underground.

Saudada com urros e copos de cerveja para o ar, a entrada da banda no palco com "Hard to explain" - depois de um "alô" em português do vocalista Julian Casablancas - já mostrava um pouco da assinatura que a banda conseguiu criar com seus dois discos. Seus timbres de guitarras são próprios, assim como a dinâmica de suas canções, de frases curtas que se repetem na guitarra de Nick Valensi (frases que alcançam a essência do pop) enquanto o outro guitarrista, Albert Hammond Jr., toca poucos acordes, às vezes um único. Os instrumentos silenciam para um riff. Isso é Strokes.

Casablancas (cujo pai, John Casablancas, fundador da agência de modelos Elite, morou aqui e é casado com uma brasileira) arriscou umas frases em português, como um "finalmente estamos aqui". Em seguida, tocou a primeira inédita do show, "Hawaii-Aloha". Pouco depois, outra nova, "We only live once". A música, ótima, tem uma melodia que a todo momento parece que vai abrir para um dia de sol, quase surf Beach Boys, mas nunca chega lá, sempre presa à urbanidade rascante dos novaiorquinos. "Razor blade", também recém-saída do forno, é quase funk - a la Strokes, claro. Mais sombrias, "Heart in a cage" e "Juice box" completaram a nova safra.

O restante do show foi repleto de sucessos como "Last nite", "12:51", "Take it or leave it" e a preciosa "Is this it" - esta já no bis, antes de "New York city cops". De alguma forma, as músicas soam mais limpas no palco. Mas nem por isso parecem assépticas - a garagem suja ainda está lá, mas sem as sujeiras cuidadosamente acrescidas no estúdio. A simpatia e os sorrisos de Casablancas, Hammond e do baterista brasileiro Fabrizio Moretti - que no fim deu um "boa noite, meus irmãos" para a platéia - também guarda certo contraste com as fotos dos encartes.

A platéia saiu satisfeita. No diálogo entre o hype, a pose e a música, o Strokes confirmou no palco do TIM Festival ser ao vivo a grande banda que esperavam. Por trás de tudo, porém, a grande graça do show é ver uma banda que fala com a urgência, o desalento e com uma certa inteligência próprias desses anos 2000 - de uma geração que é continuação daquela que Kurt Cobain dizia que cheirava ao desodorante juvenil "Teen spirit". "You only live once" ("Você só vive uma vez"), diz a nova canção do grupo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]