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Banhista usa um leitor digital na beira do mar, com o sol a pino e os pés na água | Ricardo Medeiros / Gazeta do Povo
Banhista usa um leitor digital na beira do mar, com o sol a pino e os pés na água| Foto: Ricardo Medeiros / Gazeta do Povo

O que importa é o conteúdo

A literatura, para se manter, tem de estar além do suporte. A afirmação é do escritor mineiro radicado em São Paulo Luiz Ruffato, autor do projeto Inferno Provisório, que prevê cinco romances (quatro já foram publicados). O prosador faz miséria mesmo no tradicional livro impresso. O seu texto polifônico tem negritos, itálicos e tipologias variadas, o que confere, a cada página, o aspecto de uma pintura.

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Texto literário ganha outra arquitetura

De certa maneira já se faz muita literatura na internet, seja com os blogs, ou em sites específicos, ou mesmo no interjornalismo (expressão que eu prefiro à de jornalismo on-line ou de web jornalismo, que são mais comuns, mas que não abrangem tudo o que o jornalismo pode fazer com a evolução tecnológica e a internet).

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Literatura simplesmente é

Maria Antonieta Pereira, que lecionou na Faculdade de Letras da UFMG, observa que, em tempos de plataformas múltiplas, a literatura se conecta com tudo. Ela cita o caso da escritora Clarah Averbuck, que estreou em blog, migrou para os livros e, posteriormente, uma de suas obras, Máquina de Pinball, recebeu adaptação cinematográfica (Nome Próprio, de Murilo Salles).

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O futuro já chegou

A criação, paginação e edição da "literatela" têm que ser pensadas para a leitura em computador, internet, e-readers, iPads e iPods da vida. Deve-se ter em mente a arquitetura da construção tecnológica e todas as suas possibilidades.

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Há quatro anos e meio escrevi um artigo, publicado no jornal literário Rascunho, sobre a relação entre a literatura e a internet. Fazia um exercício de futurismo sobre o encontro entre a velha arte literária e a nova mídia. Chamei esta aproximação de linkteratura, uma reunião das palavras link - e quem agora não sabe o que é isso? - com literatura. Também pode ser chamada de literanet ou literaweb, ou ainda simplesmente literatela (literascreen) que seria toda a literatura lida em uma tela (de computador, iPad, telefone, e-reader etc).

Na época em que esse artigo foi publicado, ainda não existiam os leitores de livros digitais, essas maquininhas como o Kindle, da Amazon, ou o Alfa, da Positivo, e tantos outros que surgiram. Principalmente não existia o iPad, da Apple, o tablete eletrônico que começa a se popularizar em países mais tecnologicamente avançados.

Pois foi o surgimento desses aparelhinhos que me faz agora "reciclar" aquele artigo e novamente pensar nas possibilidades do encontro da literatura com a tela do computador ou do telefone. É um novo exercício de futurologia, um pensar sobre uma nova forma de apresentação literária.

Não, não vou dizer em momento algum que os livros em papel estão condenados à morte. Apenas quero apresentar possibilidades, algumas delas já sendo testadas.

Janelas

Quem se interessa o mínimo por tecnologia pode pular este parágrafo e ir direto ao próximo. Os leitores de livros digitais são pequenos equipamentos eletrônicos mais ou menos do tamanho de um livro comum, que pesa como um livro comum e tem uma tecnologia chamada de tinta digital, que permite a leitura sobre tela fosca, não brilhante, e o armazenamento de centenas de livros digitais. Funciona assim: você compra o aparelho (não dá para falar em preço exato, mas varia de R$ 500 a R$ 1 mil), entra na loja virtual da livraria na internet e compra um livro digital que baixa no aparelho para ler quando quiser.

O iPad é semelhante nas proporções, um pouco maior e mais pesado, mas diferente na proposta. Permite a navegação pela internet como um microcomputador e, por isso, a tela é brilhante. Também permite baixar e ler livros, jornais e revistas. E aqui vai uma interessantecomparação entre o livro, o e-reader e o iPad que você pode ver pelocomputador: http://bit.ly/9SSCzd. Integração

A questão principal é: como a literatura poderá integrar-se a essa nova realidade, sem abandonar o que tem de melhor, ou seja, a capacidade criativa e imaginativa que só ela confere à palavra escrita?

Se fosse apenas um caso de transposição para som e imagem, não haveria problema: o cinema e a televisão já fazem isso e serão também integrados ao computador. Mas, mantendo o foco da criação sobre a palavra escrita, como interagir com o computador e a internet utilizando-se das possibilidades tecnológicas que são oferecidas?

O jornalista Nick Bilton, do New York Times, é um especialista em novas tecnologias e se considera um futurologista. Ele acaba de lançar nos Estados Unidos o livro I Live in the Future & Here’s How It Works (Crown, 293 págs., US$ 25). Você pode ler um trecho no seguinte endereço: http://scr.bi/9OlE6Z.

Como era de se esperar para o caso dele, o livro pode ser lido também pelo computador ou por um smartphone e a cada capítulo há um conteúdo extra – que não tem no livro impresso – para alguma dessas plataformas.

Na introdução, Bilton conta que amava ler jornais, que aprendeu a acompanhar ainda na escola. Porém, mudou os hábitos e há alguns anos não lê mais nem jornais nem livros em papel. Tudo o que lê tem a intermediação de uma tela, seja no computador, no smartphone, em um iPad ou em um leitor digital.

Ele diz o seguinte (numa tradução livre): "Por fim, vou mostrar a você de que forma o consumo de notícias, revistas, livros, música e outras mídias está mu­­dando, e o modo como a informação de qualidade se destaca do volume atordoante de dados disponíveis. É neste ponto que o velho encontra o novo: o talento para contar histórias, as reportagens incisivas e os trabalhos cuidadosos de edição continuarão existindo, mas, para ir além da mera informação, eles deverão ser apresentação para mim e para você de maneira diferente".

Concordo com ele e é disto que procuro tratar aqui. Um personagem como Nick Bilton é fundamental para termos em mente enquanto lemos este artigo. É alguém do futuro e o futuro já está aí.

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