Desfalque

FIT de Belo Horizonte é cancelado

Da Redação

A edição 2010 do Festival Internacional de Teatro Palco & Rua (FIT) foi cancelada. Thaís Pimentel, presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), alegou em coletiva na manhã da última quinta-feira que a curadoria do evento teve dificuldades de montar a grade com bons espetáculos. Dentre os motivos para o cancelamento, ela apontou ainda que a realização do festival em ano de Copa do Mundo e eleições atrapalhariam a programação.

Com se trata de uma mostra bienal, o FIT sempre caiu em anos eleitorais ou de grandes eventos esportivos, como a Olimpíada de verão e a Copa do Mundo.

De acordo com o edital de seleção dos espetáculos, publicado no dia 30 de dezembro, as inscrições terminaram no dia 3 de fevereiro e o FIT aconteceria entre os dias 5 e 15 de agosto.

A presidente da FMC destacou que o cancelamento do FIT não indica o fim do festival, mas o adiamento para 2011, com o intuito de selecionar uma programação especial para comemorar a 10.ª edição.

A classe teatral da cidade já reagiu com protestos e panelaço.

CARREGANDO :)

O desejo de colocar os espectadores em sintonia com procedimentos da cena contemporânea é, com certeza, um dos principais objetivos dos festivais de teatro mais representativos do Brasil. Algumas tendências são bem conhecidas: investir na fu­­são entre o teatro e outras manifestações artísticas, de modo a borrar fronteiras antes rigidamente delimitadas, problematizar o conceito tradicional de personagem, desconstruir sólidos exemplares da dramaturgia universal com o intuito de trazer à tona aspectos ocultos – pelo menos, à primeira vista – dos textos abordados. Mas, acima de tudo, o que cada curador procura ao compor a programação de seu festival é a qualidade.

Publicidade

Integrando um mesmo núcleo estão o Festival Internacional de Londrina, o Festival Internacional de São José do Rio Preto, o Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (cuja edição deste ano foi cancelada), o Porto Alegre em Cena, o Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília, o riocenacontemporanea (hoje desmembrado em mais de uma iniciativa) e o Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia, o mais recente agregado. Correndo por fora, o Festival de Curitiba.

A iniciativa do Núcleo dos Festivais está fundada na valorização do intercâmbio entre os vários eventos que, ocasionalmente, compartilham os mesmos espetáculos na programação sem, porém, perderem suas especificidades de vista.

Filo

Londrina é uma cidade jovem que sedia um festival antigo: nasceu em 1968 da iniciativa de estudantes. Quatro anos depois, foi institucionalizado e passou a contar com o apoio decisivo da Universidade de Londrina (UEL), até hoje uma das organizadoras do festival. Diretora do Grupo Proteu, um dos mais destacados de Londrina (juntamente ao Delta), Nitis Jacon (agora, presidente de honra do festival) estreitou o contato entre o interior do Paraná e o teatro estrangeiro por meio de seu vínculo com alguns dos mais emblemáticos grupos de teatro internacionais, como o Odin Teatret, de Eugenio Barba. "O Filo surgiu como festival local, virou regional, depois nacional e, finalmente, internacional, em 1988", lembra Luiz Bertipaglia, diretor do festival desde 2003.

É difícil destacar os momentos mais marcantes de um evento tão longevo. Mas Bertipaglia enumera alguns grupos – La Otra Orilla (Alemanha/Peru), Carbone 14 (Canadá), Teatro Potlach (Itália), Odin Teatret (Dinamarca), Les Ballets C. de la B. (Bélgica), Architects-of-Air (Inglaterra), Yuyachkani (Peru) e De la Guarda (Argentina)" – e artistas – "Kazuo Ohno, Ives Lebreton, Peter Brook, Marta Carrasco, Wim Vanderkeybus e David Dorfmamm".

Publicidade

Cabe lembrar da excelente apresentação do doloroso e intimista La Forma Que Se Despliega, assinado por Daniel Veronese com o grupo Periférico de Objetos, do expressivo Bambi – The Wilderness Years, do grupo Green Ginger, e da visita da Compagnia Laboratorio di Pontedera, de Roberto Bacci, com Amleto. E ressaltar que o Filo não se resume à apresentação de espetáculos. Tradição do festival, os Projetos de Maio visam à reinserção social de grupos normalmente postos à margem. O trabalho continuado com alguns desSes grupos (cegos e terceira idade) atesta a seriedade da iniciativa. Este ano, o Filo, marcado para tomar conta de Londrina entre os dias 10 e 27 de junho, voltará a apresentar espetáculos infanto-juvenis no Zerão, belo parque localizado no coração da cidade, como Ogroleto, de Karen Acioly, Marcelo, Marmelo, Martelo, da Cia. Azul Celeste, de Jorge Vermelho, além de trabalhos de grupos bem-sucedidos, como o Udigrudi e o Caixa do Elefante.

Dividindo as atenções no Paraná, o Festival de Curitiba segue o modelo do Festival de Edimburgo ao promover uma grande vertente, o Fringe, composta por espetáculos incluídos na programação por ordem de inscrição. As montagens selecionadas são reunidas na Mostra Contemporânea, que conta com a curadoria de Tania Brandão, Celso Curi e Lucia Camargo.

Desde 1992 até hoje, o festival mantém sua principal diretriz: fornecer um panorama diversificado da produção teatral brasileira. "Na primeira edição trouxemos 14 espetáculos. Hoje contamos com 28 na Mostra Contemporânea e 358 no Fringe", comemora o diretor do festival Leandro Knopfholz, que também chama atenção para a presença de espetáculos internacionais, a exemplo de Needles and Opium, de Robert Lepage, e, agora, de Dulcinea´s Lament, encenação diretamente inspirada em Dom Quixote, de Miguel de Cervantes.

São José do Rio Preto

Quase tão antigo quanto o Festival de Londrina, o de São José do Rio Preto começou em 1969, quando integrantes do grupo de Teatro Jovem da Casa de Cultura promoveram a abertura da primeira edição do Festival Nacional de Teatro Amador da cidade. "A partir de sua internacionalização, em 2001, e, especialmente em seus primeiros anos, sob curadoria de Ricardo Muniz Fernandes, o FIT Rio Preto se tornou peculiar por evidenciar novas tendências e investigações cênicas", afirma Marcelo Zamora, porta-voz de uma equipe composta também por Deodoro Moreira (Secretario Municipal de Cultura) e Sebastião Eduardo Costa Martins (Gerente do Sesc – Rio Preto). Em gestões anteriores (muitas conduzidas por Jorge Vermelho), o festival trouxe encenações como Le Retour au Désert, de Bernard Marie-Koltès, montagem da francesa Compagnie Dramatique Parnas, e Carmen Fúnebre, do polonês Teatr Biuro Podrózy, além de espetáculos brasileiros, como Os Sertões, do Teatro Oficina, Babilônia, do Folias D'Arte, As Quatro Chaves, do Ventoforte, Café com Queijo, do Lume, Os Sete Afluentes do Rio Ota, versão de Monique Gardenberg para o original de Robert Lepage, Rainha(s), apropriação de Cibele Forjaz de Mary Stuart, de Schiller, e A Falecida Vapt-vupt, retorno de Antunes Filho à dramaturgia de Nelson Rodrigues. Na edição de 2010, marcada para ocorrer entre os dias 15 e 24 de julho, a curadoria será composta por Gabriela Mellão, Roberto Alvim, Sidnei Carvalho Martins e Sergio Luis Venitt de Oliveira.

Publicidade

* Daniel Schenker é jornalista e crítico de teatro.