Já na fila do Teatro Bom Jesus, em Curitiba, na noite do último domingo (24), as vestimentas indicavam o tipo de espetáculo que seria apresentado. Um pai vestido de Seu Madruga exibia orgulhoso o filho pequeno trajado como Chaves. Os dois personagens estampavam muitas das camisetas vestidas por pessoas na faixa dos 20 aos 30 anos de idade. Mas obviamente não era nenhum deles que estaria ali, já que os dois atores que interpretavam a dupla morreram.
Os fãs do seriado “Chaves”, exibido há mais de 30 anos no Brasil, aguardavam ansiosamente para ver ao vivo um dos integrantes do elenco original, Édgar Vivar, o Senhor Barriga. Zenón Barriga y Pesado, o homem que cobrava o aluguel na Vila do Chaves e, não raro, era recebido com uma pancada, pode não ser um dos protagonistas e nem estar entre os mais célebres. Sua presença pela primeira vez em Curitiba, porém, foi suficiente para mobilizar muitos “chavesmaníacos” locais.
Aos 67 anos, Vivar cumpriu uma maratona de apresentações no último fim de semana. Curitiba encerrou a agenda que passou antes por Florianópolis, Itajaí e Joinville, em Santa Catarina. Quando ele surge no palco, é recebido por aplausos efusivos, dezenas de celulares fazendo fotos e, como não poderia deixar de ser, o célebre bordão “já chegou o disco voador”.
Carisma
Se o Senhor Barriga não está entre os personagens mais reverenciados da turma, Édgar Vivar tenta compensar na base do carisma. O personagem, na verdade, funciona mais como um acessório para seu stand-up particular, em que faz de tudo um pouco: canta, dança, interage com a plateia, conta sua história de vida e faz piada com assuntos populares, como sogras, mulheres e a língua portuguesa. “Qual a melhor coisa que a química deu ao mundo? As loiras”, diz em um dos seus momentos de improviso.
O público responde com entusiasmo, rindo e até cantando junto com Vivar. Mas o que os espectadores querem mesmo é relembrar o “Chaves”. Quando o humorista homenageia os antigos colegas de televisão por meio de imagens exibidas em um telão, Ramón Valdés, o Seu Madruga (morto em 1988), é o mais ovacionado. A cereja do bolo está reservada para o final do espetáculo: gravações em Super 8 de filmagens e das turnês feitas pela trupe na América Latina.
São aproximadamente 45 minutos de apresentação, seguidos por um bate-papo com a plateia. É quando Vivar responde a perguntas encaminhadas pelos espectadores que, claro, querem saber mais sobre os bastidores de “Chaves”. Ali o ator conta, por exemplo, que Roberto Gomes Bolaños (criador e intérprete do Chaves) era muito perfeccionista. “Tínhamos de gravar várias vezes, repetindo cenas com água, tinta e tudo mais”, relata. Em uma dessas repetições, Vivar acabou quebrando o cotovelo. “E, no fim das contas, a cena que foi ao ar foi a da primeira tomada”, completa, arrancando risos e aplausos entusiasmados dos fãs, que vão para casa levando pelo menos algumas histórias dos ídolos para compartilhar.
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