Atriz Ana Ferreira aprofunda sua pesquisa performática em “Incêndio”.| Foto: Daniel Starck/Divulgação

Antes de mais nada, é fantástico sair de casa num domingo à noite, Curitiba, 17 graus, e encontrar várias outras pessoas pagantes desejosas por assistir a uma performance como “Incêndio”. As apresentações, na Casa Hoffmann, terminam no próximo fim de semana, de sexta-feira a domingo, às 20 horas.

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Ter público é essencial para o projeto da atriz Ana Ferreira, que está sozinha no palco, nua, em vários sentidos. Em vários momentos, a plateia fica livre para se manifestar, não que o faça livremente. Mas fica aberta a ponte para esse tipo de encenação que termina de se construir no palco, com algum espaço para o improviso.

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Atriz usa o fogo para falar da vida em “Incêndio”

Monólogo utiliza a dança, o teatro e a performance em trabalho inspirado em Hölderlin e James Joyce

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O tema do fogo é manipulado por Ana de forma bastante metafórica. Por vezes, sensual, depois lírica, com experimentalismo. Esse salto no vazio envolve o texto, de sua autoria, modulações da fala e a operação de luzes e som, que ela faz ao vivo.

Um trabalho solo é o que há de mais autoral. Dificilmente um se parecerá com outro. No palco, revela-se muito da personalidade do artista, a começar por suas escolhas. E as inquietações de Ana se insinuam nessa “conversa decorada”, envolvendo coisa pesada, como a morte, a violência, mas também o contato humano.

Peça

“Incêndio”

Casa Hoffmann (Largo da Ordem). 6ª a dom. às 20h, até 28/6. R$ 10 e R$ 5 . Classificação indicativa: 16 anos. Mais informações no Guia.

A forma como ela faz o teatro falar de si mesmo, satirizando a própria tradição da performance, me ganhou como espectadora já no começo: olhando com cara de sapeca para a plateia, ela gospe lentamente numa mão, depois na outra, depois no pé. Depois lambe. Está aberta a conexão Marina Abramovic.

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Em seguida, microfone na mão, ela avisa que fez aquela “nojeira” toda (palavra sua) para tirar isso do caminho. Pago o pedágio da parte física “chocante”, começa a verdadeira performance da comunicação entre artista e espectadores. Ela dá um minuto para que a audiência peça que ela faça qualquer coisa, lembrando ações daquela mestre sérvia que chegavam ao cúmulo de entregar uma arma carregada ao público e dizer “faça o que quiser”.

Essa atitude radical de dar o corpo à arte aparece em gérmen na pesquisa de Ana. Apenas no final, a menção à plateia (“vocês agora vão para casa...”) acaba sendo um pouco agressiva.