No fim de 2015, o Brasil anunciou que concederia residência fixa a 44 mil haitianos, atendendo ao fluxo imigratório que se avolumou a partir de 2010, quando um terremoto devastou Porto Príncipe, a capital do Haiti.
Entre os refugiados, vieram a São Paulo o cineasta Patrick Dieudonne, 33 anos, o professor Wilken Pierre Louis, 30, o estudante Junior Odnel Barthelemy, 20, o taxista Louis Evard, 34, a estudante de medicina Marie Roselaure Jeanty, 25, e o músico Joel Aurilien, 29.
Os seis estão no elenco da peça “Cidade Vodu”, da companhia paulistana Teatro de Narradores, que, sob direção de José Fernando de Azevedo, trata de questões ligadas à chamada diáspora haitiana. A montagem se estrutura justamente a partir de depoimentos concedidos ao grupo pelos intérpretes visitantes.
A reportagem foi recebida pelo grupo no intervalo de um ensaio, no último sábado, dois dias antes de a peça estrear na MITsp - Mostra Internacional de Teatro de São Paulo.
A conversa aconteceu entre escombros da Vila Itororó, construção dos anos 1920, no centro de São Paulo, onde o espetáculo será apresentado até domingo (13). Depois, a peça segue para o Festival de Curitiba (dias 31/3 e 1º/4), onde será encenada na Praça Tiradentes.
Dias 31/03 e 1º/04
Praça Tiradentes
Ingressos: R$ 70 e R$ 35 (meia-entrada)
Mais informações no Guia.
“Cidade” amarra os depoimentos à trama de um haitiano que tem sua vida atravessada pela história política do país. Ele perde sua mulher no terremoto e vem para o Brasil.
A localização na Vila Itororó, para o Azevedo, representa também “o modo como a cidade se define entre nós, as exclusões que cria, produzindo suas próprias ruínas”.
Para fazer a peça, os haitianos recebem ajuda de custo de R$ 800 mensais e transporte (para ensaios e apresentações). Os integrantes do núcleo artístico ganham R$ 2.400, mas Azevedo explica que a remuneração é relativa a uma programação mais extensa (solos, seminários, cabarés, criação e temporada).
Além de contar as dificuldades que passam para achar emprego, os haitianos depuseram sobre o traço da identidade brasileira que mais os surpreendeu: o racismo.
“No Haiti, não existe o preconceito que percebi aqui e que eu só conhecia pela TV”, diz Jeanty. Questões raciais e da identidade negra estão entre os assuntos da mostra.
Filha de uma comerciante que perdeu um dos seis filhos no terremoto e viu outros quatro deixarem o país depois, Jeanty evitou falar sobre racismo, mas foi incitada pelos colegas -dois relatam terem sido chamados de “macacos”. “Tento não dar importância quando acontece. Não tenho cabeça para isso.”
Desiludido com a promessa de um Brasil cheio de oportunidades, Aurilien também está certo de que a crise brasileira caiu sobre haitianos com mais ferocidade. “Passa no Glicério que você vai ver os desempregados na rua.”
Conanda aprova resolução pró-aborto sem previsão de orientação para opção por adoção
Piorou geral: mercado eleva projeções para juros, dólar e inflação em 2025
Brasil dificulta atuação de multinacionais com a segunda pior burocracia do mundo
Dino suspende pagamento de R$ 4,2 bi em emendas e manda PF investigar liberação de recursos