Fantoche: boneco com luva, movimentado com os dedos| Foto: ABC Brinquedos/

Sob diferentes denominações – fantoche, marionete, mamulengo –, o teatro de bonecos é uma arte milenar, com origens na Grécia. Foi popularizado na Idade Média e tem uma forte contribuição de culturas africanas negras. Com uma origem tão antiga, a sobrevivência dessa arte em plena era digital permanece uma incógnita e divide opiniões. Apesar dos temores, Evaldo Barros, de Curitiba, conserva o otimismo: “Quero acreditar que essa arte não vai morrer. Sabemos que são poucas as gerações mais jovens que se interessam [pela profissão]. A maioria dos bonequeiros atuais já tem uma idade madura. Daqui a 20 ou 30 anos, quem estará fazendo teatro de bonecos?”, questiona.

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Teatro de bonecos abraça gente grande

Arte de origem milenar, animação resiste à era dos smartphones e diverte crianças e adultos ao redor do Brasil

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Fernando Gonçalves, de Olinda, também confessa preocupação quanto à continuidade do ofício: “A gente vem lutando há muito tempo para transmitir essa arte às novas gerações. Eu não saberia viver longe dos bonecos. Acho que desenvolvi uma relação inversa com eles: não sou mais eu que os manipulo, são eles que me guiam”.

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Mamulengo: criação típica de Olinda 

Já para o professor Beltrame, de Santa Catarina, não se pode ter uma visão polarizada da questão: arte de um lado e tecnologia do outro. A ideia é que haja uma integração entre essas duas partes: “Hoje, as companhias teatrais incorporam as novas tecnologias, como a Giramundo, de Belo Horizonte, com o espetáculo ‘Alice no País das Maravilhas’”. A produção incorpora artes plásticas, videoarte e música. Alguns bonecos são manipulados em tempo real com a tecnologia motion capture. Porém, o professor, que também é editor da revista da arte de animação Móin-Móin, alerta que é preciso ter um equilíbrio: “Se o espetáculo for só tecnologia e prescindir da emoção provocada no público, não vai funcionar. É preciso manter o compartilhamento das emoções, o momento do encontro”, avalia.

Marionete: boneco suspenso por fios 

A capacidade de provocar emoções, aliás, é considerada a principal função dessa arte, tanto pelo professor como pelos bonequeiros: “Teatro de animação é o artista emprestar sua alma a uma criatura que não tem alma própria e passar essa emoção para o público, seja ele criança, adolescente ou adulto”, explica Barros, da Associação Paranaense de Teatro de Bonecos. Mas, para ele, também é primordial o artista se doar a esse trabalho: “O entusiasmo, o coração pulsando, é isso o que nos move. Tem profissionais que fazem esse trabalho de maneira competente, mas muito técnica. No dia que eu deixar de sentir aquele friozinho na barriga antes de começar uma sessão, prefiro vender enciclopédias”, admite.

Essa necessidade de doação do artista-bonequeiro – que vale para qualquer canto, seja Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro ou Santa Catarina – é bem resumida pelo saxofonista norte-americano Charlie Parker, que Marcos Ribas, de Paraty, gosta de lembrar: “Você pode saber toda a técnica do mundo, mas na hora de pegar sua corneta, só sai o que tem no coração”.

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