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Cantando clássicos como sua divisão peculiar, Zeca é o grande nome do samba no país | Guto Costa/Divulgação
Cantando clássicos como sua divisão peculiar, Zeca é o grande nome do samba no país| Foto: Guto Costa/Divulgação
  • CD/DVD Zeca Pagodinho 30 Anos – Vida Que Segue. Universal Music. Preço médio: R$ 19 (CD) e R$ 29 (DVD)

Distraído, ele venceu. Zeca Pagodinho é um artista sem declarações prontas, que não faz política e não tem uma equipe de assessores preocupada em vender sua imagem. Aparece sem pudor tomando cerveja e, em entrevistas, valoriza a vida simples. Não raro questiona a sua condição "de grande artista". "Pego van e vou no boteco como qualquer pessoa", disse em entrevista ao jornal O Globo.

No entanto, Zeca é o midas da música popular brasileira. Toda a gravação em que mete a mão, vira disco de ouro. Na "cadeia alimentar" do samba, Zeca chegou ao topo sem forçar a barra. "Ele é o representante de uma geração, de um movimento que significou a retomada do partido alto, da improvisação, das religiões africanas influenciando o samba tradicional", observa o jornalista Luiz Fernando Vianna, autor da biografia Zeca Pagodinho – A Vida Que Se Deixa Levar.

Para comemorar as três décadas de sua carreira Zeca Pagodinho lança o CD e DVD Vida Que Segue. A apresentação já foi exibida pelo canal Multishow e chegou às lojas na última semana. Nos discos, o cantor interpreta composições que acenderam a paixão do artista pelo samba e pela música brasileira.

A contagem do tempo de carreira tem início no momento em que teve seu primeiro sucesso como compositor, em parceria com Arlindo Cruz e Beto Sem Braço, "Camarão Que Dorme a Onda Leva", gravado por Beth Carvalho em 1983.

Antes, ele havia nascido Jessé Gomes da Silva Filho, no Irajá, subúrbio do Rio de Janeiro. Adolescente, fazia capoeira e ia às das rodas de samba e partido alto do subúrbio, enquanto trabalhava como anotador de jogo do bicho.

Recebeu o apelido de "Pagodinho" quando frequentava os pagodes em Madureira, antes de virar o menino prodígio da roda de samba do Bloco Cacique de Ramos, onde começou a ser admirado pelos seus versos e por sua capacidade de improvisar, no final dos anos 70.

De lá pra cá, entre altos e baixos, Zeca consolidou uma narrativa que influenciou e redefiniu o samba como produto artístico e comercial. "No momento em que ele surgiu, o samba estava decadente, desprestigiado. Se você olhar o que aconteceu daquele momento em diante, até a instrumentação do gênero mudou", aponta Vianna.

Na maneira de cantar, Zeca resgata uma tradição de intérpretes com "pouca voz", mas que conseguem com "bossa" e divisão peculiar criar um estilo particular e inimitável, como Miltinho, Lucio Alvez e João Gilberto.

Neste trabalho que celebra sua carreira, o cantor foi convencido pelo produtor Max Pierre a mostrar como começou seu amor pelo samba, com um repertório que passa pela história do gênero (leia mais abaixo). A única canção inédita é a faixa que dá título à obra, uma parceria com Serginho Meriti, Cocão e Rodrigo Leite. Na apresentação do disco, o cantor deixa no ar um projeto que revisita sua trajetória como compositor.

Julião Boêmio, músico

"Eu acompanho a trajetória do Zeca Pagodinho desde moleque. Sou fã mesmo. Comecei a tocar com o repertório dele. A história da carreira dele é muito importante para a música brasileira. Na humildade, ele conquistou o espaço que tem: o grande artista brasileiro. O cara que representa o povo. A gente ouve histórias da generosidade dele. Para os compositores e para qualquer um que queira tomar uma cerveja com ele. Para todos os músicos que brincam com isso de tocar samba, ele é o cara."

Rodrigo Browne, jornalista e produtor musical

"Sua trajetória artística vem do samba autêntico, da cultura popular, do pagode (antes da palavra virar palavrão musical), dos terreiros de macumba, do partido alto e, principalmente, das noites de boêmia regada a muitas garrafas de cerveja. Seu estilo agrada desde os ‘talibambas’ da velha guarda que não admitem firulas no gênero, até da moçada nova que curte um samba de gosto muitas vezes duvidoso. Zeca navega com a tranquilidade de quem faz a coisa certa."

Rodger Weiss Gomes, chef e pesquisador de samba

"Abençoado com o dom de cantar samba de maneira elegante e criativa, o Zeca chegou à perfeição em algumas interpretações. Para mim, o dueto dele com Almir Guineto em ‘Insensato Destino’ é um exemplo, não vejo como melhorar o que eles fizeram. Outro é ‘Deixa Clarear’ do disco de mesmo nome. Sem falar no clássico ‘Maneiras’, seu primeiro grande sucesso. Fora tudo isso, é uma pessoa generosa, humilde e simples como poucos. Que Deus dê a ele mais 30 anos de carreira."

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