Se o jogo não tivesse sido abolido no Brasil em 1946 e o Rio de Janeiro capital turística da América Latina tivesse um grande cassino, provavelmente, o show dos trinta anos da carreira de Zeca Pagodinho estaria no palco principal. A cenografia é grandiosa, com o morro da Providência e a Central do Brasil ao fundo representando o Rio antigo ao fundo. Sua banda Muleque reúne os melhores músicos do gênero no país.
A escolha do repertório é surpreendente e até educativa. Serve como catequese aos não iniciados. No lugar do repertório próprio ou dos compositores de sua geração, Zeca optou por um apanhado "monumental" da história do samba. Começa nos anos 20, com Sinhô ("Gosto Que Me Enrosco") e João da Baiana ("Batuque na Cozinha"), e chega ao período dourado da música, com Cartola, Zé Keti e Jamelão. Tem também Geraldo Pereira, Noel Vanzolini, Adoniran, Ataulfo, Paulinho da Viola, João Nogueira e mais. Da própria lavra, apenas "Madame", parceria com Ratinho. Inusitado, o clássico popular do candomblé "Só o Ôme", sucesso com Noriel Vilela, abre os trabalhos. Destaque também para a interpretação de "Preciso Me Encontrar" (Candeia), em dueto com Marisa Monte, em que os virtuosos Yamandu Costa e Hamilton de Holanda recriam no violão e no bandolim a poderosa introdução arranjada com fagote por Dino Sete Cordas no primeiro disco de Cartola.
A impressão é que o artista resolveu pagar um tributo à tudo o que o trouxe até o posto de maior nome da música popular brasileira nos últimos, pelo menos, quinze anos. Ao final, ele canta com Xuxa e as crianças do instituo que mantém no Rio de Janeiro em um momento meio piegas, mas que não macula o resultado final do disco, indispensável para quem não é ruim da cabeça, nem doente do pé.
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