Antes de dar vida a Francis Underwood, protagonista do seriado “House of Cards”, Kevin Spacey viveu intensamente Ricardo III, o rei maquiavélico de Shakespeare.
Foi numa montagem de teatro produzida por ele entre a Inglaterra e os EUA, com um time de 20 atores mais equipe técnica que viajou durante um ano em turnê. Os bastidores desse périplo entre países da Europa, Ásia e EUA são didaticamente mostrados no documentário “Now: in the wings on a worldstage”, disponível na Netflix.
Tanto a peça quanto o filme sobre ela são resultados de um período que Spacey passou em Londres dirigindo o teatro Old Vic – para espanto de muita gente em Hollywood que não entendeu esse intermezzo teatral.
Um ano
Foi a duração da turnê pelo mundo de “Ricardo III”, de Kevin Spacey. Produção passou por lugares como a ópera de Pequim e o anfiteatro aberto de Epidauro, na Grécia.
A generosidade do ator com a equipe ao longo das viagens surpreende: ele financiou também dias de turismo, a bordo de lancha ou de camelo. O ganho pessoal, segundo ele, é “manter-se interessado”. Nada de blockbusters só para se manter no cinema.O que interessa, diz Spacey, é um bom papel.
Ricardo III e Frank Underwood
A semelhança do registro entre os personagens de Ricardo e Francis faz pensar em quanto o vilão teatral serviu de laboratório para o papel de político sórdido na série de tevê.
“Ambos são personagens dispostos a fazer o que for necessário para ir adiante... e incríveis em prever como as pessoas irão reagir. Significa que ambos estão 16 jogadas à frente no xadrez”, diz Spacey.
Ricardo, duque de Gloucester, mata seus familiares numa escalada de violência que lhe garante a coroa. É magistral a forma como manipula os súditos para que lhe peçam que assuma o trono. Depois acaba sozinho, oferecendo seu reino por um cavalo.
De sua parte, Francis Underwood elabora um plano contra o presidente que o preteriu para o cargo de Secretário de Estado, no qual sutilmente move as pessoas em prol de seus interesses. Ambos “olham para a câmera” – no caso de Ricardo, em à partes direcionados à plateia.
Assista
Disponível na Netflix. Documentário, 2014. 97 min.
O andamento com que o filme revela a encenação teatral é paulatino. Em 1h30, ouvimos entrevistas com os atores, acompanhamos os bastidores de muitos dias de apresentação em várias cidades e conhecemos a montagem cena a cena, em fragmentos que deixam transparecer detalhes contemporâneos como o uso de brinquedos e bexigas, mas que não satisfazem: falta o todo, fica o desejo de ter estado em um daqueles teatros para assistir às três horas de peça.
Confira o trailer do documentário (somente em inglês):
Deixe sua opinião