Desde seu primeiro papel de destaque em uma novela, em “Guerra dos Sexos”, de 1983, o ator José Mayer acostumou-se a emendar papéis de mocinhos - viris, voluntariosos, verdadeiros. Jamais um personagem que provocasse desprezo ou mesmo ódio do público. Mas isso deve acabar a partir desta segunda-feira (3) quando estrear a nova novela das 21 h da Globo, “A Lei do Amor”. Aqui, ele será Tião, misterioso empresário que será um dos suspeitos de armar um atentado contra um político.
“Talvez seja esse o papel mais difícil que já fiz”, conta Mayer. “Heróis e galãs são muito chatos, pois são previsíveis e não precisam de muita consistência. Quem concorda comigo é Tarcísio Meira, que foi o grande galã de novela dos anos 1970.” Tarcísio, aliás, também está na novela, na qual vive o prefeito de São Dimas, o tal político que sofreu um atentado ao se dispor a fazer uma delação premiada para entregar todos os envolvidos em falcatruas que corroeram o governo.
Tião deve aparecer na segunda fase da novela, ou seja, a partir da segunda, dia 10 - de hoje a sexta, a trama se passará nos anos 1990 e o público conhecerá o passado dos personagens principais, o casal Pedro (Reynaldo Gianecchini) e Helô (Claudia Abreu), separados por uma tramoia armada por Fausto (Tarcísio). Depois, avançará aos dias atuais, quando Pedro volta da França e descobre que Helô está casada com Tião. “Adoro escrever para o Tião, é um personagem muito especial”, conta Maria Adelaide Amaral, autora da novela ao lado de Vincent Villari.
Ela descreve Tião como um homem charmoso, mas cujo principal interesse é o dinheiro.
“Vilões são habitualmente mais ricos em contradições e de humanidade, o que os torna mais próximos da realidade”, acredita José Mayer, que vê na vilania uma experiência quase catártica com o público. “A grande motivação de Tião é a carência, pois, desde jovem, ele é deixado de lado e nunca foi estimulado a sair em busca de suas conquistas. Enfim, Tião só está em busca do que não teve na vida.”
Mayer e toda equipe de criação vem trabalhando com uma rara folga de produção - até a semana passada, já estavam gravados quase 40 capítulos. A explicação é logística: inicialmente, “A Lei do Amor” estrearia em março passado, mas, por conta do forte teor político e por ser este um ano de eleições municipais, a Globo decidiu adiá-la e antecipar “Velho Chico”. Com isso, foi possível fazer um detalhamento da trama e dos personagens. “Consegui conviver melhor com Tião, descobrir suas nuances e tento humanizá-lo. Descobri, por exemplo, que sua grande dor, o maior ferimento foi provocado pela rejeição da mãe. Daí sua busca por amparo, mas de uma forma mais violenta que o esperado.”
O ator volta a trabalhar com Maria Adelaide Amaral depois de um longo período - antes, Mayer foi o protagonista de “Meu Bem, Meu Mal”, novela de 1990 assinada por Cassiano Gabus Mendes e que contou com a colaboração da dramaturga. “Sempre gostei da escrita de seus trabalhos e agora, em parceria com o Vincent, é possível notar que eles têm uma rara convicção na trama que criaram. Admiro autores que já têm delineada a estrutura de sua história, independente do que vão dizer os grupos de discussão.”
O fato de a novela ter um forte teor político - serão mostradas jogadas ardilosas entre adversários, engrossando a sujeira do governo de São Dimas (ironicamente, o “bom ladrão”, aquele que perde perdão a Cristo ao ser crucificado ao Seu lado) - agrada enormemente o ator de 66 anos. “Vivemos hoje uma realidade canalha e a novela, embora seja uma ficção, precisa refletir sobre esse momento e ajudar o público a entender bem o que se passa. Temos de nos informar muito para não sermos ludibriados.”
José Mayer já se dedica integralmente à novela, mas não esconde o desejo de, ao seu final, trazer para a São Paulo o musical “Kiss Me Kate”, que fez enorme sucesso no Rio. “Temos uma possibilidade de dispor de um teatro no início do próximo ano e, dependendo de como vou estar fisicamente, vamos fazer.”
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