Em 2016, será mais fácil encontrar Pedro Henrique Neschling pelas ruas de Lisboa do que na tela da televisão brasileira. Conhecido por papéis em novelas como “Da Cor do Pecado”, exibida em 2003 pela TV Globo, ele deixou de lado os convites para novas empreitadas do tipo.
“Joia Rara”, de 2013, foi sua última aparição em um folhetim. Aos 33 anos, decidido a dar novos rumos à carreira, mudou-se para a capital portuguesa. Lá, poderá dar mais atenção à nascente vida de escritor e à atividade como roteirista.
“Nos últimos anos, passei por uma mudança radical em todos os aspectos. Diminuí minha estrutura de vida”, explica Neschling. “Como era contratado de novelas, acabava fazendo as coisas que estavam pintando, e não as que queria fazer. Cheguei à conclusão de que preciso começar a me envolver em projetos que me deixam mais satisfeito. Hoje, eu quero trabalhos que me façam feliz, não que me paguem bem.”
Os projetos que Neschling busca para alcançar a felicidade já começaram a dar resultado. Ele publicou seu primeiro romance no segundo semestre pela Paralela, braço da Companhia das Letras. “Gigantes”, abertamente inspirado nos textos dos ingleses Nick Hornby e David Nicholls, teve tiragem inicial de 5 mil exemplares e já precisou de outra, com mais 2 mil. A aposta da editora, que o enxergava como um nome de apelo jovem com qualidade na escrita, deu resultado nas livrarias.
Amigos
“Gigantes” se desenrola ao longo de mais de uma década. Nela, cinco amigos de colégio passam pelas transformações inerentes à vida adulta, em um trama recheada de música pop. De alguma maneira, os dilemas dos personagens parecem refletir os do autor.
Em paralelo à vida de escritor, Neschling, que atuou e dirigiu a peça “Como Nossos Pais”, de 2012, também está envolvido na produção de roteiros para o cinema e a televisão. É dele, junto com Guilherme Siman, Guga Gessule e Bruno Mazzeo, o roteiro da série “E Aí, Comeu?”, adaptação do texto de Marcelo Rubens Paiva para o Multishow.
Para o cinema, ele trabalha novamente em parceria com Mazzeo. Eles vão levar às telas uma história idealizada pelo produtor musical João Araújo. A produção fica por conta de Augusto Casé: “O filme também é uma história de amizade. Vai acompanhar a reunião de uma banda que fez muito sucesso no passado. É uma história bem pop.”
Ele refuta a tese de que os roteiristas são o elo fraco na cadeia audiovisual brasileira. Segundo o autor, uma nova leva de profissionais está pronta para fazer a diferença: “Existe uma geração de jovens roteiristas muito bem formados. Sem falar nos profissionais consagrados, que são excelentes. É uma questão muito mais ampla. O universo de produção absorve esses escritores de maneira errada. A culpa não é do roteirista, e sim do projeto.”
“Queria muito falar sobre o primeiro momento idade adulta. Quando você é jovem, tem muitos planos e a certeza de que vai mudar o mundo. Mas a vida coloca a gente no lugar”, explica o autor. “Ao longo dos anos, os amigos de colégio vão ficando cada vez mais diferentes entre si, mas mesmo assim mantêm algum tipo de laço.”
A opção por Lisboa foi simples. A capital portuguesa, que vem sendo indicada como um dos polos criativos da Europa nos últimos anos, guarda semelhanças com o Rio, mas também se difere em questões fundamentais.
“Vou para lá por conta de um desencanto com a maneira como nossa sociedade está desenhada. Estamos em um péssimo momento político e social no Brasil, sem falar na violência cotidiana”, diz. “Eu sinto que Lisboa é como o Rio seria se fosse mais bem cuidado.”
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