Eric Hobsbawm, o grande historiador marxista inglês, considerava a cena da escadaria de Odessa, no clássico “O Encouraçado Potemkin”, de Sergei M. Eisenstein, os sete minutos mais influentes da história do cinema. Nessa era de conservadorismo, era só o que faltava surgir algum novo foco crítico desmontando o significado daquela escadaria - e do carrinho desgovernado com o bebê - por haver se tornado emblemática da revolução russa.
Existem muitas outras cenas emblemáticas - a abertura de “Cidadão Kane”, de Orson Welles, com a morte do milionário Charles Foster Kane, lançando o enigma de Rosebud. Da mesma forma, o cinéfilo pode se indagar sobre as grandes cenas fundadoras do cinema brasileiro, aquelas que colocam nossa identidade na tela. O canal Curta! está apresentando às quartas, na faixa das 23h45, a série “Grandes Cenas”. Produzida pela Casa de Cinema de Porto Alegre, com direção de Ana Luiza Azevedo e Vicente Moreno, a série tem apresentação do ator e diretor Matheus Nachtergaele.
O objetivo é dissecar cenas consideradas antológicas do cinema brasileiro. A desta quarta-feira ( 23), é exemplar. Quem vê “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, é desde logo apanhado pela cena inicial da perseguição à galinha. De certa forma, ela é o ‘gancho’ que vai prender o espectador por todo o filme. E é tão brilhante, tecnicamente, que o próprio Meirelles gosta de contar. Quando conheceu Steven Spielberg - e “Cidade de Deus”, ou “City of God”, concorreu ao Oscar de direção da Academia de Hollywood -, o grande cineasta bombardeou o colega brasileiro. Queria saber tudo sobre a cena da galinha.
“Jure que você, tendo visto o filme, não se fez a mesma pergunta? Como foi filmada a perseguição? Quantas galinhas foram usadas?” Num texto de divulgação do canal Curta!, Ana Luiza Azevedo diz que o objetivo de Grandes Cenas não é fazer uma análise técnica, fria, mas entender o processo criativo - e os bastidores. No caso de “Cidade de Deus”, o roteirista Bráulio Mantovani e o fotógrafo César Charlone contam tudo. No livro de Paulo Lins é um galo, e a narração busca passar para o leitor o que se passa na cabeça do galo acuado. No filme, a galinha consegue escapar momentos antes de passar pela faca e virar espeto na roda de samba. A perseguição é ruidosa. Tiros, gritaria. A polícia intervém, e a cena termina com o protagonista, Buscapé, entre dois fogos.
Na próxima semana, Fernanda Montenegro vai lembrar a cena do feijão em “Eles Não Usam Black-tie”, de Leon Hirszman. Os cinéfilos só têm a agradecer. A série honra as grandes cenas que a inspiram.
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