A tatuadora Yanina Viland veio à Curitiba para ficar. Nascida e criada em Donetsk, a cidade hoje dominada por rebeldes pró-Rússia e que se declarou independente da Ucrânia em 2014, Yanina rodou o mundo, depois que os conflitos começaram, fez o nome como tatuadora na Rússia até desembarcar sua arte no Estúdio Galeria Teix, no Batel.
A tatuadora já tinha visitado a cidade havia dois anos. Sentiu que poderia viver aqui. “Gosto da mentalidade das pessoas”. Hoje ela é uma das cinco tatuadores residentes do estúdio. Uma das primeiras profissionais da área a conseguir o visto de trabalho no Brasil.
Yanina quer paz para trabalhar. A Teix quer o talento da artista para consolidar uma verdade cada vez mais aceita: que a tatuagem é “arte séria”.
“A vinda dela coloca Curitiba no cenário mundial da tatuagem”, explica Jô Maciel, uma das sócias da Teix que aposta no profissionalização da tatuagem e investiu para contratar a ucraniana para cá.
“A forma como a trouxemos serve como um exemplo ao setor. O jeitinho brasileiro e a informalidade atrasam o reconhecimento desta arte e da nossa profissão”.
Expressão artística humana tão antiga como o tempo, as tatuagens, até o século passado não eram consideradas arte de elite, mas uma subcultura popular.
Para Yanina, o estigma contra a arte está lentamente se esvaindo. “A maioria dos meus clientes não pertence ao mundo da tatuagem. São pessoas que ainda não fizeram tatoos, mas se interessam por arte”.
Tatuagens, porém, não são objetos que podem ser colocados em uma caixa de vidro, numa foto ou dentro de uma performance.
Improvisações
A liberdade é, para ela, a chave para a entrada da tatuagem no espaço da arte com “A” maiúsculo. “Quando a liberdade da criação artística foi incorporada ao processo, a tatuagem ganhou o status de arte contemporânea. Alguns temas padrão da tatuagem são incríveis, mas quando entra o elemento liberdade, você a coloca no patamar das outras belas artes”.
Para ela ajuda o fato de ter formação clássica em escola de artes, algo que se não é indispensável, é recomendável para tatuadores. “O corpo é um suporte sofisticado, precisa que você estude bem a composição, não basta apenas sair rabiscando”.
As tatuagens de Yanina são construídas em um processo entre cliente e tatuador. Ela conta que os clientes sempre a surpreendem.
“Pessoas loucas chegam para mim e reconhecem a mesma loucura e dizem: vamos fazer algo juntos”. Para ela, suas sessões de tatuagem lembram mais improvisações de jazz (seu estilo de música preferido) nas quais “a gente passa um dia nos conhecendo, sai para almoçar ou tomar um café e aí então decide como vamos fazer”.
“Eu gosto de fazer tatuagens que funcionam em composição com um determinado corpo, que só funcionam naquele corpo. Bons desenhos feitos na pele continuam apenas bons desenhos. A arte está em transformar o corpo num objeto”.
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