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O ator norte-americano John Travolta | Fred Dufour/AFP
O ator norte-americano John Travolta| Foto: Fred Dufour/AFP

Em julho deste ano, o escritor norte-americano Jonathan Franzen, autor dos aclamados best sellers Liberdade e As Correções, esteve no Brasil, participando da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Em uma entrevista coletiva, disse que o livro não é mais um produto cultural popular e relevante, tampouco voltará a ser, porque, para ler, é preciso estar só. E, no mundo contemporâneo, as pessoas têm, cada vez menos, a capacidade de lidar com a solidão.

Nunca essa inabilidade, ou medo, foi tão evidente – e generalizada. O pior é que, embora compartilhada por milhões, ela acaba, ironicamente, sendo muito pouco debatida, como se fosse uma doença incurável e contagiosa que, quando exposta à luz do dia, pode tornar visível demais o abismo existencial de muitos. Daí para a rejeição, seria um passo.

Vivemos tempos bizarros, nos quais impera o conceito, consolidado pela via do quase sempre equivocado senso comum, de que um ser humano pleno é quem está sempre cercado de gente, tem milhares de "amigos" nas redes sociais e a agenda constantemente cheia. Mentira.

Em geral, seres sociais compulsivos, ávidos por contatos, eventos, relacionamentos, por mais superficiais que possam ser, não suportam a possibilidade de se verem a sós diante da própria existência, ouvindo o silêncio pontuado apenas pelo oxigênio que entra e sai de seus pulmões. Temem se perceberem pequenos, ou descartáveis demais, diante da imensidão de um mundo que lhes é muito estranho, por jamais se terem dado a chance de percebê-lo de um ponto de vista próprio, a sós. Sem a mediação – e a aprovação – do coletivo.

É preciso, para eles, estar sempre on-line, com os celulares, televisores, iPads e iPods ligados. Fazendo brotar do corpo tentáculos invisíveis capazes de se agarrarem ao mundo, material ou virtual, os impedindo de mergulhar no poço profundo de si mesmos. O pavor do que vão encontrar nessa queda é tamanho, que a solução acaba sendo se manter conectado, ainda que por meio de vínculos ilusórios, a outras criaturas mergulhadas na mesma realidade precária, nessa espécie de paraíso artificial.

Por isso, ironicamente, a solidão seja endêmica, um mal secreto que se dissemina como um vídeo viral no YouTube.

Perturba essa incapacidade de abraçar o silêncio de ser um, que vai do inexplicável prazer de assistir a um filme sozinho em um cinema escuro, a caminhar por uma rua jamais trilhada, mas a poucas quadras da própria casa, e à qual você nunca prestou atenção. Certas descobertas só podem ser conjugadas na primeira pessoa do singular. Mas esse estar verdadeiramente só se tornou um pecado, uma aventura proibida e, sobretudo, perigosa.

E assim, como em um baile, damos as costas à solidão como se fosse uma moça feia, com quem ninguém deseja dançar. Mas ela tem, sim, sua beleza e está ali, à espera, e tem passos incríveis para nos ensinar. Inclusive, ler um bom livro. Basta ouvir o verdadeiro ritmo da vida que segue, a despeito de tudo.

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