“Tivemos uma visão fugaz do Tamisa, com os lampiões brilhando sobre as amplas e silenciosas águas”, diz Conan Doyle no romance O Sinal dos Quatro| Foto: Reprodução

Nos passos de Sherlock, em Londres e na Suíça

Londres, julho de 1986. Aluguei fraque e cartola para cobrir o casamento do Príncipe Andrew na Abadia de Westminster. Perto da locadora de trajes ficava o pub Sherlock Holmes. Fui correndo visitá-lo.

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Tarefa desagradável a de pinçar no texto de sir Arthur Conan Doyle (1859-1930) as qualidades que fazem de Sherlock Holmes a figura fictícia que muitos preferem acreditar ter existido também fora do papel – como um homem de carne, osso e deduções.

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Não existe um fragmento de texto, uma proeza estilística ou apenas um elemento que justifique o interesse suscitado pelo detetive que, depois de morto, obrigou seu criador a revivê-lo ta­­manha a comoção que causou nos leitores. É provável que Doyle temesse pela própria vida e preferiu tolerar sua cria mais um tanto a contrariar os seguidores de Holmes (ou ficar sem dinheiro).

O segredo para a longevidade dos 56 contos e quatro romances do detetive cocainômano está no que pode ser chamado de "A Linguagem de Conan Doyle", com letras maiúsculas assim. Essa é uma expressão que aparece nos estudos da obra de William Shakespeare (1564-1616), a exemplo do que fez o pesquisador Frank Kermode, usada para se entender a força de peças teatrais como Rei Lear e Hamlet, valiosas mais de quatro séculos depois de terem sido escritas. Especialistas apreciam adaptações que colocam as peças do bardo em ambientes inusitados – na Nova York do século 20, em meio às gangues de Los Angeles ou num morro carioca – quando elas não alteram o texto. Pouco importa o cenário, Shakespeare é Shakespeare por causa da linguagem.

As histórias mais antigas de Sherlock Holmes têm 123 anos – Um Estudo em Vermelho saiu na forma de folhetim pela primeira vez em 1887, na Beeton’s Christmas Annual. Quatro anos depois, quando Conan Doyle começou a produzir contos, a fama de Holmes transformou o autor numa estrela – seu nome numa capa de revista garantia a venda de pelo menos 100 mil exemplares. O número impressiona nos dias de hoje e não era diferente na Londres do fim do século 19.