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Em breve serão conhecidos os nomes literários do momento na prosa brasileira de ficção e – em menor escala, sujeita que está a maiores restrições de mercado – na poesia contemporânea do país. Juntos, o Jabuti (de "livro do ano", pois os vencedores das várias categorias já foram divulgados) e o Portugal Telecom, ambos a serem entregues ainda no final deste mês, pagarão R$ 180 mil a ficcionistas e poetas. Já o Prêmio São Paulo de Literatura, recém-instituído pela Secretaria de Cultura paulista, dará R$ 200 mil ao melhor romance publicado no ano passado e mais R$ 200 mil a um livro de estréia, também de ficção, na categoria "autor iniciante".

Premiações são, sem dúvida, um retrato válido da produção literária de um país em dado momento – mais ainda porque, no Brasil, nunca antes foram tão badaladas ou pagaram quantias tão vultosas. Mas, conforme nota a ensaísta Beatriz Resende no recém-lançado Contemporâneos – Expressões da Literatura Brasileira no Século XXI (Casa da Palavra), há outros sinais de que a vida literária brasileira anda animada.

"Nas grandes cidades, novas livrarias partilham o mesmo espaço com outras formas de lazer, tornando o convívio com o livro mais sedutor", escreve, para em seguida apontar outro novíssimo fenômeno das letras nacionais: "A repetição da Festa Literária Internacional de Parati vem conseguindo apresentar escritores brasileiros ao lado dos nomes mais importantes do cenário internacional em um evento que se tornou, em aparente contradição, ao mesmo tempo cult e popular". Cabe acrescentar que a Flip, como é chamada, ganhou congêneres ou inspirou festivais mais antigos a se renovarem em todo o país.

Mas como avaliar – para além dos instantâneos críticos que podem representar as listas de premiados e convidados de grandes eventos – a qualidade do que está sendo publicado no romance e no conto brasileiros? Pois aqui aparece outro fato novo: um esforço, por parte de pesquisadores e ensaístas, muitos deles jovens e – novidade das novidades – ligados a universidades, em mapear a melhor produção dos nossos contemporâneos.

A Beatriz Resende, soma-se, por exemplo, o grupo capitaneado pelas professoras Stefania Chiarelli, Masé Lemos e Giovanna Dealtry (leia entrevista na pág. 3), que assinam a organização da coletânea Alguma Prosa – Ensaios Sobre Literatura Brasileira Contemporânea (7 Letras). Isso sem mencionar críticos como José Castello e Manuel da Costa Pinto que, seja em artigos especiais na imprensa, seja em coletâneas (A Literatura na Poltrona, Record, do primeiro) ou guias (Literatura Brasileira Hoje, Publifolha, do segundo), conseguem transcender a mera resenha em jornais ou revistas – hoje o único (e ínfimo) espaço de crítica literária mais sistemática.

Garimpagem

"O temor da avaliação equivocada ou de se deixar levar por um entusiasmo fugaz quase sempre leva o crítico à prudência de deixar passar algum tempo antes de se ocupar do novo, especialmente quando se trata de literatura (...)", observa Beatriz Resende na introdução à coletânea Contemporâneos. Mas não sem antes confessar: "É o presente, no entanto, que me fascina neste início de século. Por vezes assusta, mas seduz sempre". De fato, a tarefa de maior complexidade para os críticos é a de garimpar, entre os muitos autores novos e novíssimos surgidos nos blogs e revistas literárias eletrônicas ou mesmo no bom e velho papel, aqueles que têm mais chances de permanecer (leia texto pág. 2).

Não será, claramente, a faixa etária o critério a agrupá-los ou distingui-los – embora vários dos mais novos sejam também bastante jovens. Aqui é preciso, ao contrário, voltar um pouco no tempo antes de tentar entender as "expressões da literatura brasileira no século 21", conforme as intitula Beatriz Resende. É ela própria, afinal, quem esclarece: "Importam, em muito, autores que não apenas gestaram a produção atual, mas que permanecem inovadores em suas obras, muitas vezes menos tementes de radicalizações (...) que a novíssima geração".

É preciso lançar esse olhar retrospectivo até, pelo menos, a década de 1990. "Me agrada a prosa de Adriana Lisboa, Bernardo Carvalho, Milton Hatoum, Luiz Ruffato, além dos contos de Rubens Figueiredo, João Gilberto Noll, Ronaldo Correia de Brito – não necessariamente todos escrevendo neste início de século, mas no final dos anos 90 e agora também", opina a professora Stefania Chiarelli, dando abertura, junto aos nomes mais do que consagrados de Noll, Hatoum e Carvalho, a um segundo time – alguns, pode-se dizer, seus sucessores.

São escritores como os citados Ruffato e Rubens Figueiredo, mas também gente mais jovem – André Sant’Anna e o talentoso contista gaúcho Amílcar Bettega Barbosa, por exemplo – ou muito, muito jovem, como Adriana Lisboa e, sobretudo, Daniel Galera, que aos 29 anos acumula quatro livros (o último, Cordilheira, recém-lançado) e ótima recepção crítica – além de ter sua obra publicada pela editora que, em termos de ficção, apresenta o catálogo mais recheado de Prêmios Nobel e estrelas estrangeiras e nacionais, a Cia. das Letras.

Excelente companhia – com o perdão do trocadilho – para um escritor que parece perseguir um ideal de romance já plenamente testado e aprovado, como em Mãos de Cavalo, porém injetando-lhe contemporaneidade ao criar um protagonista cujos anos de formação afetiva e sentimental se dão nas décadas de 1980 e 90. Já André Sant’Anna, publicado pela mesma editora, na comparação com Galera passaria até mesmo por "experimentalista" com seu O Paraíso é Bem Bacana, delírio moribundo de um narrador/jogador de futebol que acaba convertido ao islamismo fundamentalista na Alemanha.

Beatriz Resende resume um pouco as duas tendências ao escrever: "Em praticamente todos os textos de autores que estão surgindo revela-se, ao lado da experimentação inovadora, a escrita cuidadosa, o conhecimento das muitas possibilidades de nossa sintaxe e uma erudição inesperada, mesmo nos autores muito jovens deste início de século". Segundo a ensaísta, "com as costas doendo menos e a correção imediata feita pelos programas de computador, nossos escritores parecem estar escrevendo tão rápido quanto bem".

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