Uma fuga do péssimo transporte público

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Professor do mestrado em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Fábio Duarte reconhece que o carro ainda é um símbolo de status no Brasil. Porém, ele vê outras razões por trás do culto ao automóvel.

"O carro também representa a possibilidade de fugir dos péssimos serviços públicos de transportes e mobilidade nas cidades. Calçadas inexistentes e poucas linhas de transporte público com má qualidade induzem o brasileiro a ter um carro e, com isso, mais conforto e tempo para si", diz Duarte.

Outros especialistas que analisam o trânsito no país, ouvidos pela Gazeta do Povo, concordam que o transporte coletivo deixa a desejar. Curitiba costuma ser citada como referência e recebe elogios pelos serviços que presta à população, mas, para o consultor J. Pedro Corrêa, isso acontece não porque o sistema curitibano tem qualidade e, sim, porque os outros são deficientes.

Para Corrêa, as pessoas perdem o ânimo e a disposição de sequer cogitar deixar o carro na garagem. Se as cidades oferecessem uma infraestrutura melhor, talvez fosse mais fácil conscientizar as pessoas sobre os problemas implicados no uso do automóvel.

Preço alto

Fábio Duarte oferece um cálculo impressionante sobre os gastos com um carro. "De fato, o desespero para fugir da péssima qualidade do transporte público leva a uma despesa que ultrapassa em muito as prestações de um carro. Considerando desvalorização de mercado, combustível, seguro obrigatório, manutenção e despesas vinculadas (estacionamento, limpeza, etc.), um carro popular para trajetos diários de 10 quilômetros custa cerca de R$ 30 por dia – sem contar a prestação. Em um mês, R$ 900 que se gasta sem se ver. É muito dinheiro. Isto porque pesquisas apontam que durante sua vida útil, um carro passa 95% do tempo estacionado. E, em sua casa, ocupa o espaço de pelo menos um quarto (considerando vaga mais acesso). Enfim, ele traz conforto para o deslocamento na cidade? Sim. Mas considerando que esse deslocamento não ultrapassa 10% do tempo de seu dia, vale a pena pelo quanto que ele consome de sua vida?"

Eis a questão. (IBN)