Você só ouve sertanejo? Só rock? Ou é a música erudita que sai de seus fones de ouvidos ou do som de seu carro? De acordo com entrevistados pela Gazeta do Povo, a preferência por determinado tipo de estilo musical e o ortodoxismo presente nessa escolha seria, ao invés de opção culturalmente limitadora, uma forma possível de inserção social.
"Hoje o jovem faz um tipo de seleção musical à procura de uma turma que o identifique. Ele procura nichos culturais para se inserir, e isso é característica de qualquer cidade grande em que a cultura tem uma participação ativa", diz Álvaro Carlini, professor de História da Música no departamento de Artes da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O fato de se identificar com determinado estilo, inclua aí suítes de Bach ou o atual sertanejo universitário, seria mais um reflexo da condição social e econômica do indivíduo do que puramente conservadorismo ideológico. A teoria da "geração perdida" aquela sem causa pela qual lutar também é relembrada pelo professor.
"Há uma juventude sem causa que se apega ao que é mais fácil. Nos anos 1990 tinha o Collor para falar mal. Na minha geração tinha a ditadura, hoje as forças de oposição estão dispersas. A juventude hoje é classista, seletiva e quer ser diferente só por ser diferente", complementa Carlini.
Professor de Comunicação da UFPR e também da disciplina Análise da Música na Mídia , Toni André ressalta o aspecto mercadológico como possível definidor do padrão de consumo. E, ao contrário conservadorismo sugerido, defende que um tom libertário é característico dos artistas atuais.
"Não vejo o conservadorismo cultural como algo comportamental, mas como questão ligada à visibilidade e à exposição nos meios de comunicação. Em se tratando de produção artística, há uma maior liberdade", diz o professor, citando os exemplos da banda alemã Rammstein que gravou um clipe em que os integrantes aparecem mantendo relações sexuais com prostitutas , e até da dupla Victor & Léo, que apresentam um conteúdo "diferente e ousado" nas nas letras em comparação com outras do mesmo gênero.
Com 27 anos, Márcio Sterneguel já é maestro titular da Orquestra Sinfônica da UFPR. O músico volta a citar a escolha do gênero musical preferido como característica de pertencimento a determinado grupo. "O conservadorismo tem mais a ver com isso do que com questões técnicas ou musicais. As pessoas se sentem seguras em meio a outras que compartilham dos mesmos gostos. E o que quebra essa barreira é sempre visto como algo ameaçador e problemático", discorre o maestro, citando como exemplo a Sagração da Primavera, balé do compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971) que marca o início do modernismo na música erudita.
"A questão social e financeira é importante no consumo cultural, mas não definidora. Antigamente, a ascensão social significava frequentar lugares de alta cultura, mas hoje um novo-rico ouve country e sertanejo todo dia. Mais do que conservadorismo, temos a legitimação de um gênero, que tem a ver com a defesa do território no qual o sujeito se sente confortável", complementa Sterneguel.
O maestro ainda lembra do funcionalismo da música. Se em casa ou no trabalho se vê em meio a sinfonias de Beethoven, no carro diz ouvir o pop rock do norte-americano John Mayer.
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