Vanderlei Cassol e Rodrigo Mello “forfetaram” na etapa de sexta-feira| Foto: Idário Café/ Vipcomm

De vez em quando, Vera Holtz pisca exageradamente, enrola a língua, carrega nos erres que remetem à sua origem de paulista do interior. Coisas dos hormônios da menopausa, diz a atriz, de 55 anos. A intérprete de Marion conta que só percebe estas alterações de comportamento ao ver, por exemplo, algumas cenas de "Paraíso tropical" gravadas quando ela está, segundo suas próprias palavras, "fora do ar". O público, porém, nem nota: está mais atento ao charme distinto da personagem trambiqueira. Tanto que tem dificuldades em vê-la como vilã. Vera Holtz tenta explicar por que, fala das suas escolhas pessoais e de sua droga favorita: a lucidez..

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O GLOBO: As pesquisas mostraram que, longe de considerar Marion uma vilã, boa parte do público a vê como uma mulher batalhadora. O que você acha disso?

VERA HOLTZ: Acho que houve uma confusão, que o público se surpreendeu com as qualidades da trambiqueira. Porque os trambiqueiros têm muitas qualidades: humanidade, facilidade para lidar com as diferenças individuais e circular em diferentes meios sociais. A Marion é tão distinta, aparenta tanta honestidade, que consegue camuflar a verdade.

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O GLOBO: que você acha que poderia acontecer com a Marion?

VERA: O que seria bom para ela? Ganhar sozinha na loteria, para não precisar dar mais golpes.

O GLOBO: Seria um retrato da impunidade do Brasil de hoje?

VERA: Está tudo muito complicado, estamos num sucatão. Parece que o país está olhando para o passado, e não para o futuro. Mas sou como o Ariano Suassuna: não perco a esperança. Acho que novela pode até retratar o país, mas o jornal retrata muito mais. A ficção se mantém ficção. A Marion é uma bandida profissional, sofisticada, não gostaria de vê-la envolvida com cadeia, processo.

O GLOBO: Então você acha que Marion não será a assassina, quando o "quem matou" entrar no ar?

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VERA: Seria uma surpresa para mim.

O GLOBO: Ela é tão vilã quanto o filho, Olavo?

VERA: Em termos de ética, todos os vilões são parecidos, não têm respeito pelo próximo. Mas o Olavo é diferente dela, é um bandido limitado, que apela para a morte (dos que o atrapalham).

O GLOBO: Como você compôs a personagem?

VERA: Entrei muito em cima da hora no elenco da novela, em janeiro; os outros já estavam há três meses. Fui criando a Marion a partir do texto, que chegou com algumas indicações e ajustes, porque a personagem originalmente era da Joana Fomm.

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O GLOBO: E a relação da Marion com os filhos, como você criou?

VERA: Todo mundo fala dos "sins" da maternidade, e eu fui juntando os "nãos". Conversei com amigas que disseram que às vezes querem esganar os filhos, que a maternidade não foi legal para elas. Comecei a trabalhar com este limite da mãe, e coloquei a ira que a mulher sente quando percebe que não controla mais sua criação.

O GLOBO: Você não tem filhos. Foi opção?

VERA: Nunca quis ter, aos 14 anos já sabia disso, e acho que foi uma das poucas coisas na vida em que fui coerente. Nunca tive instinto maternal, não acredito nisso.

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