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A viagem da popstar Madonna ao Malauí gerou esperanças de uma vida melhor para milhares de órfãos carentes, mas também reavivou dúvidas em relação ao impacto do altruísmo ocidental sobre o continente mais pobre do mundo. Madonna passou a maior parte da semana passada visitando orfanatos e manteve encontros com autoridades governamentais e funcionários de organizações humanitárias, como parte de uma campanha para chamar a atenção para a situação de cerca de 900 mil órfãos no Malauí, país pobre de 13 milhões de habitantes onde muitas famílias foram destruídas pela Aids.

Madonna prometeu doar 3 milhões de dólares a uma campanha para ajudar essas crianças, encabeçada pela organização humanitária Raising Malawi.

Ela e vários acompanhantes, incluindo seu marido, o cineasta Guy Ritchie, estão hospedados num hotel na capital Lilongue e vêm viajando em veículos utilitários esportivos levados ao país para sua visita.

A segurança tem sido forte, e a imprensa vem sendo mantida à distância da postar.

Em Gumulira, um povoado árido de 6.000 habitantes perto da fronteira com a Zâmbia, o chefe local disse que os moradores da vila são gratos pela atenção recebida e pela nova escola construída com recursos levantados pela Raising Malawi, que destinou 1,5 milhão de dólares ao povoado.

- Perdemos muitos pais aqui - disse o chefe George Gumulira, cujo sobrenome é o nome do povoado. - A escola foi construída para abrir oportunidades para as crianças. Torcemos para que ela seja ampliada, e nos foi dito que Madonna vai nos visitar.

Esau Emalasoni, de 10 anos, destaca a importância do projeto.

- Meus pais morreram, então o povoado cuida de mim - disse ele. - Eu trabalho no campo, mas agora também estudo.

Apesar da gratidão, ainda há dúvidas quanto a se Madonna e outros ocidentais que trabalham para organizações beneficentes na África vão conseguir oferecer soluções de longo prazo, ao nível de base, para os maiores problemas do continente, tais como o combate à Aids e à miséria.

Críticos sugerem que a onda de campanhas de boa vontade faz parte de um esforço de relações públicas.

Indagado sobre a popularidade recente da África entre celebridades, o colunista da revista Vanity Fair Michael Wolff comentou recentemente: "O pessoal de relações-públicas pergunta (aos astros) 'que país africano você quer adotar?'"

Outros questionam os métodos e as motivações das celebridades.

Houve reações de espanto quando foi revelado que os órfãos num centro financiado pela Raising Malawi vão ter em seu currículo uma matéria intitulada Espiritualidade para Crianças, ligada à cabala, uma escola de misticismo judaico da qual Madonna é adepta.

- Para mim, essa é uma fase pela qual elas (as celebridades) estão passando. Mas falta um compromisso de longo prazo - disse uma funcionária humanitária em Lilongue, pedindo para não ser identificada. - Madonna vai chamar a atenção internacional para o problema, mas não vai acontecer grande coisa em nível local.

A publicidade em torno da visita de Madonna e os boatos de que ela teria a intenção de adotar um filho no Malauí também suscitaram entre algumas crianças a expectativa irrealista de que serão levadas para viver uma vida melhor em outro país.

Na semana passada o jornal Daily Times, do Malauí, escreveu que há dois meses um grupo de visitantes brancos viajou a um orfanato financiado por Madonna.

Mpheso Ngulube, 11 anos, falou que lhe foi dito que uma mulher rica e famosa a levaria para a Inglaterra, longe do povoado onde vive com sua mãe viúva e seis irmãos num barraco de um cômodo só.

A mãe da garota disse que viver num país estrangeiro seria uma ótima oportunidade para sua filha, mas que esperava que esta voltasse para casa nas férias para vê-la.

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