Não são só as cerejeiras que colorem o inverno curitibano. Os amores-perfeitos, cravinas, verbenas e bocas-de-leão enfeitam jardins, praças e canteiros espalhados pela cidade e nos lembram que há esplendor nas flores no inverno, basta observá-las a centímetros de distância. O cultivo desse quadro pintado e repicado a mão por diversos funcionários depende de trâmites complexos por parte da prefeitura, que administra um horto específico para as flores da cidade, no Guabirotuba.
Veja fotos das flores que enfeitam Curitiba no inverno
Todas as mudas plantadas nos jardins, parques e praças vêm de sementes importadas, porque o Brasil não possui tecnologia adequada compatível com os padrões internacionais de cultivo. Ou seja, o planejamento urbano para o meio ambiente começa na escolha da espécie e termina na flor germinada em solo curitibano, um ciclo que se estende por pelo menos um ano e meio.
“Como todas as nossas sementes são importadas, nós temos tempo e espaço para semear plantas por toda a cidade”, explica Erica Costa Mielke, coordenadora do departamento de Produção Vegetal da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. “Vejamos o inverno, por exemplo: para a floração ocorrer em junho, conforme demanda a espécie, nós nos programamos para o pedido acontecer por volta de setembro, quando as flores de primavera estão espalhadas pela cidade”, explica ela sobre a logística das plantações.
Segundo a coordenadora, todas as plantas são trocadas a partir de maio em Curitiba. “As sementes vêm de espécies melhoradas da Europa e dos Estados Unidos”, diz.
As flores de inverno permanecem nos espaços públicos da cidade até o início do mês de novembro, quando começam a ser substituídas pelas espécies de verão, que suportam mais chuvas e temperaturas bem altas. Ao todo, de 350 a 400 mil mudas são produzidas por mês no horto do Guabirotuba.
A boca-de-leão, uma das exemplares do frio, floresce em apenas seis semanas e vêm de regiões do Mar Mediterrâneo, principalmente da Itália. Elas se abrem no inverno, não tão curitibanas, e no fim do outono voltam a repousar. De amor-perfeito são dez variedades espalhadas por Curitiba. Essas plantas têm flores de muitas cores e que formam inúmeros padrões, em tons brancos, violetas e vermelhos, e que são curitibanas da raiz ao topo: não suportam altas temperaturas.
E as árvores?
Além da Sakura, como é conhecida a cerejeira, Curitiba apresenta diversos tons de ipê ao longo do inverno. O mais famoso, o amarelo, que teve um causo com Rubem Alves - famoso escritor mineiro - pode chegar a 30 metros de comprimento, tolera geadas e é muito visto na cidade porque ele se espreita por lugares cujas temperaturas variam em torno dos 20° C.
O Paraná está frio nesse inverno, mas o planeta está cada vez mais quente
Leia a matéria completaOutra famosa planta do outono/inverno curitibano é a liquidâmbar e suas folhas de cor argilosa. Essa espécie é nativa dos países da América do Norte e vive por cerca de 200 anos. Ipê roxo e manacá-da-serra também disseminam-se com facilidade na cidade.
“Nós temos aproximadamente 125 mil mudas de árvores para plantio em estoque. São cerca de 120 espécies, 80% delas nativas. Nós produzimos cerca de 36 mil mudas por ano”, explica Roberto Larine Salgueiro, técnico responsável pelo horto da Barreirinha, que cuida especificamente das árvores da cidade.
Ao contrário das flores, os trâmites em relação ao arvoredo são mais locais, ainda que demandem mais tempo de formação.
“Nosso processo é bem longo. Nós semeamos, repicamos, que é quando elas passam para pequenos pacotes individuais, esperamos o enraizamento e só depois as plantas vão para as ruas. Esse ciclo demora em torno de quatro anos”, explica o técnico.
As equipes do horto da Barreirinha também de debruçam sobre tabelas para acompanhar o desenvolvimento das árvores. Existem datas específicas para a coleta de semente. Cada mês um novo fruto gera uma nova muda. Essa especialização também ajuda a limitar os erros na hora do plantio e da escolha das plantas.
São 12 mil novas árvores plantadas anualmente pela prefeitura. Curitiba tem hoje cerca de 300 mil árvores nas ruas, praças e parques.