Para a CNI, retomada da produção industrial ficou para 2013| Foto: Felipe Rosa/ Gazeta do Povo

Indústria não reage e adia investimentos

Afetado por aumento de custos, concorrência de importados e fraqueza das exportações, setor continua patinando

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Comércio dá sinais de perda de fôlego

O varejo começa a dar sinais de que deve fechar o ano com um desempenho menor que o esperado. O endividamento da população segurou o consumo nos últimos meses e a procura por crédito só agora começa a dar sinais de retomada.

Segundo dados da Serasa Experian, a procura por crédito cresceu, em julho, pela primeira vez em nove meses, com volume 8% superior ao de junho. Mas, no acumulado de janeiro a julho, o número de pessoas que contratou financiamentos ainda está 6% inferior ao de 2011.

Setores que registraram aumento da inadimplência, como o varejo de veículos, sentiram o aperto do crédito e a maior restrição na concessão de financiamentos.

Apesar das medidas do governo para reativar o consumo – como redução da taxa de juros e do IPI para automóveis, móveis e linha branca –, o comércio dá sinais de perda de fôlego. "No primeiro trimestre as vendas cresceram em média 7%. No segundo, esse ritmo já caiu para 3,5% a 4%", conta Vamberto Santana, economista da Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio).

Segundo o presidente da entidade, Darci Piana, o comércio está mais cauteloso com o segundo semestre, o que terá impacto inclusive nas contratações de temporários de fim de ano. A previsão da entidade é que esse número fique entre 15 mil e 18 mil pessoas. "No ano passado essas contratações ficaram em cerca de 38 mil e, desse total, 15 mil foram efetivados. Agora o volume de temporários deve ser menor e o porcentual de efetivações em janeiro, também", afirma.

Segundo a Serasa Expe­­rian, a tendência é que aos poucos o consumidor endividado passe a normalizar seus pagamentos e volte a buscar crédito.

A cinco meses do fim do ano, a tão esperada recuperação da eco­­nomia no segundo semestre parece cada vez mais difícil. A indústria não consegue retomar o ritmo de investimentos, o comércio dá si­­nais de perda de fôlego, o con­­sumidor está mais cautelo­­so na hora de comprar e as exportações, embora favorecidas pelo dólar mais caro, ainda precisam driblar a desacele­­ração da demanda internacional. Estimativas do mercado dão conta de que o Produto In­­terno Bruto (PIB) deve crescer entre 1,5% e 2% – contra uma previsão, no início do ano, de 4,5%. A sensação geral para indústria, comércio e con­­sumidores é de que a economia de 2012 está entregando menos que prometeu.

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A taxa de desemprego continua baixa, a renda continua a crescer, ainda que em ritmo menor, mas a economia não deslanchou, influenciada pela crise internacional e por condições internas, como o endividamento das famílias e a falta de investimentos públicos e privados.

Os analistas de mercado apontam para um crescimento da economia da ordem de 1,9%, contra os 2,7% registrado no ano passado. Sem contar com a queda de 0,33% em 2009, essa seria a pior taxa desde 2003, quando a economia cresceu 1,15%. E pela primeira vez a economia brasileira terá baixo crescimento aliado a baixa taxa de desemprego, de juros e inflação controlada.

Depois de andar de lado no pri­­meiro semestre, a expectativa era de que uma arrancada na segunda metade do ano pu­­desse pelo menos fazer o país repetir o crescimento de 2011. O ministro da Fazenda, Gui­­do Mantega, chegou a se ir­­ritar, em junho, com a previ­­são do banco Credit Suisse de um avanço de 1,5% para 2012 e atribuiu a análise ao fato de a instituição ser europeia. Mas a indústria e o comércio vêm revisando para baixo suas estimativas para esse ano.

Consumo não basta

Para Julio Suzuki, dire­­tor­­­­ de pesquisa do Ins­­titu­­to­­ Paranaense de Desen­­vol­­vi­­­­mento Econômico Social (Ipardes), um sinal preocupan­­te é que a demanda interna co­­meça a recuar e afetar o co­­mércio, até então relativamente protegido da crise.

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"Não dá para sobreviver só de consumo. O setor terciá­­rio começa a sentir os efeitos do endividamento das famílias, que já bate no teto", afirma. Segundo ele, o Brasil é, de certa forma, vítima do seu próprio modelo econômico de cres­­cimento, sustentado nos últimos anos pelo crédito e pelo consumo. Com o aumento da inadimplência, o crédito ficou mais difícil e escasso, o que ajuda a inibir o consumo.

Para reativar a economia, o governo lançou mão de um ar­­senal de medidas, que incluíram desonerações, corte­­ de impostos, queda na taxa­­ de juros e aumento de linhas de financiamento para­­ empresas, mas a recuperação­­ será mais lenta do que se esperava, segundo Thais Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados. "Te­­re­­mos uma ligeira melhora no­­ fim do ano, mas não será mui­­to expressiva. Haverá uma pio­­ra no mercado de trabalho, o que deve influenciar também o início de 2013", afirma.­­ A Rosenberg prevê um crescimento do PIB de 1,7% em 2012.

Crise lá fora

"O mar está revolto e o Bra­­sil não é uma ilha", diz o pro­­fessor de Economia José Guilherme Silva Viei­­ra, da Universidade Fe­­deral do Paraná, ao se referir aos efeitos da crise internacional. Para ele, o Brasil conseguiu crescer em bases fortes no passado principalmente em razão de um cenário internacional mais favorável. "Agora o país apresenta um dinamismo econômico inferior ao de outros emergentes", diz.

A desaceleração da economia também limita a capacidade de o governo apostar em novas desonerações, já que já há um impacto na arrecadação que pode vir a ameaçar a meta de superávit fiscal.

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