Indústria não reage e adia investimentos
Afetado por aumento de custos, concorrência de importados e fraqueza das exportações, setor continua patinando
Comércio dá sinais de perda de fôlego
O varejo começa a dar sinais de que deve fechar o ano com um desempenho menor que o esperado. O endividamento da população segurou o consumo nos últimos meses e a procura por crédito só agora começa a dar sinais de retomada.
Segundo dados da Serasa Experian, a procura por crédito cresceu, em julho, pela primeira vez em nove meses, com volume 8% superior ao de junho. Mas, no acumulado de janeiro a julho, o número de pessoas que contratou financiamentos ainda está 6% inferior ao de 2011.
Setores que registraram aumento da inadimplência, como o varejo de veículos, sentiram o aperto do crédito e a maior restrição na concessão de financiamentos.
Apesar das medidas do governo para reativar o consumo como redução da taxa de juros e do IPI para automóveis, móveis e linha branca , o comércio dá sinais de perda de fôlego. "No primeiro trimestre as vendas cresceram em média 7%. No segundo, esse ritmo já caiu para 3,5% a 4%", conta Vamberto Santana, economista da Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio).
Segundo o presidente da entidade, Darci Piana, o comércio está mais cauteloso com o segundo semestre, o que terá impacto inclusive nas contratações de temporários de fim de ano. A previsão da entidade é que esse número fique entre 15 mil e 18 mil pessoas. "No ano passado essas contratações ficaram em cerca de 38 mil e, desse total, 15 mil foram efetivados. Agora o volume de temporários deve ser menor e o porcentual de efetivações em janeiro, também", afirma.
Segundo a Serasa Experian, a tendência é que aos poucos o consumidor endividado passe a normalizar seus pagamentos e volte a buscar crédito.
A cinco meses do fim do ano, a tão esperada recuperação da economia no segundo semestre parece cada vez mais difícil. A indústria não consegue retomar o ritmo de investimentos, o comércio dá sinais de perda de fôlego, o consumidor está mais cauteloso na hora de comprar e as exportações, embora favorecidas pelo dólar mais caro, ainda precisam driblar a desaceleração da demanda internacional. Estimativas do mercado dão conta de que o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer entre 1,5% e 2% contra uma previsão, no início do ano, de 4,5%. A sensação geral para indústria, comércio e consumidores é de que a economia de 2012 está entregando menos que prometeu.
A taxa de desemprego continua baixa, a renda continua a crescer, ainda que em ritmo menor, mas a economia não deslanchou, influenciada pela crise internacional e por condições internas, como o endividamento das famílias e a falta de investimentos públicos e privados.
Os analistas de mercado apontam para um crescimento da economia da ordem de 1,9%, contra os 2,7% registrado no ano passado. Sem contar com a queda de 0,33% em 2009, essa seria a pior taxa desde 2003, quando a economia cresceu 1,15%. E pela primeira vez a economia brasileira terá baixo crescimento aliado a baixa taxa de desemprego, de juros e inflação controlada.
Depois de andar de lado no primeiro semestre, a expectativa era de que uma arrancada na segunda metade do ano pudesse pelo menos fazer o país repetir o crescimento de 2011. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a se irritar, em junho, com a previsão do banco Credit Suisse de um avanço de 1,5% para 2012 e atribuiu a análise ao fato de a instituição ser europeia. Mas a indústria e o comércio vêm revisando para baixo suas estimativas para esse ano.
Consumo não basta
Para Julio Suzuki, diretor de pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes), um sinal preocupante é que a demanda interna começa a recuar e afetar o comércio, até então relativamente protegido da crise.
"Não dá para sobreviver só de consumo. O setor terciário começa a sentir os efeitos do endividamento das famílias, que já bate no teto", afirma. Segundo ele, o Brasil é, de certa forma, vítima do seu próprio modelo econômico de crescimento, sustentado nos últimos anos pelo crédito e pelo consumo. Com o aumento da inadimplência, o crédito ficou mais difícil e escasso, o que ajuda a inibir o consumo.
Para reativar a economia, o governo lançou mão de um arsenal de medidas, que incluíram desonerações, corte de impostos, queda na taxa de juros e aumento de linhas de financiamento para empresas, mas a recuperação será mais lenta do que se esperava, segundo Thais Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados. "Teremos uma ligeira melhora no fim do ano, mas não será muito expressiva. Haverá uma piora no mercado de trabalho, o que deve influenciar também o início de 2013", afirma. A Rosenberg prevê um crescimento do PIB de 1,7% em 2012.
Crise lá fora
"O mar está revolto e o Brasil não é uma ilha", diz o professor de Economia José Guilherme Silva Vieira, da Universidade Federal do Paraná, ao se referir aos efeitos da crise internacional. Para ele, o Brasil conseguiu crescer em bases fortes no passado principalmente em razão de um cenário internacional mais favorável. "Agora o país apresenta um dinamismo econômico inferior ao de outros emergentes", diz.
A desaceleração da economia também limita a capacidade de o governo apostar em novas desonerações, já que já há um impacto na arrecadação que pode vir a ameaçar a meta de superávit fiscal.
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