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40% da classe D fecha o mês no vermelho

Danilo e Adriano dividem despesas: no mês passado, fatura do cartão e mensalidade da faculdade ficaram “sobrando” | Walter Alves/ Gazeta do Povo
Danilo e Adriano dividem despesas: no mês passado, fatura do cartão e mensalidade da faculdade ficaram “sobrando” (Foto: Walter Alves/ Gazeta do Povo)
Veja quais as principais despesas da classe de menor renda |

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Veja quais as principais despesas da classe de menor renda

Assediada pelo comércio e pelos bancos, a classe D é considerada, junto com a classe mé­­dia, a nova estrela do consumo e tem ido às compras com apetite. Mas a população de baixa ren­­da, mesmo com o aumento da massa salarial, ainda tem di­­ficuldade para fechar no azul suas contas. Levantamento da Paraná Pesquisas em todo o estado, realizado a pedido da Gazeta do Povo, mostra que 40% das pessoas das classes D e E não con­­seguem ou eventualmente têm dificuldade para pagar to­­das as suas contas no fim do mês.

O volume é superior à média das demais faixas de renda. En­­tre os mais ricos, das classes A e B, apenas 22% têm esse tipo de problema. Na classe C, o porcentual é de 32%. Entre os mais po­­bres, o porcentual dos que admi­­tem que nunca conseguem fechar a conta no fim do mês soma 19%, mais de duas vezes o índice dos mais ricos (8%).

As classes de menor poder aquisitivo são as que mais se be­­neficiaram, nos últimos anos, do aumento real do salário mínimo. Desde 2003, o reajuste real – já descontada a inflação – soma 53%. Mas, se de um lado a renda cresceu, de outro o crédito e os juros mais baixos têm funcionado como passaporte para as compras e o endividamento, segundo Murilo Hidalgo Lopes de Oliveira, coordenador da Paraná Pesquisas. "A classe D vem se endividando mais, o que sobrecarrega o orçamento no fim do mês. Como a renda é me­­nor, qualquer gasto extra desequilibra o orçamento", afirma.

Fiado

Um outro estudo, realizado pelo instituto Data Popular, mostra que a população emergente acaba apelando, no fim do mês, pa­­ra a velha prática de comprar fiado. De acordo com o levantamento, 45% da classe D colocou a compra na caderneta do co­­merciante ou do prestador de ser­­viço no último mês, contra 6% das classes A e B.

O técnico em enfermagem Danilo da Silva Nogueira, 24 anos, nem sempre consegue pagar as contas em dia. No mês passado, "sobraram" as contas da faculdade de Enfermagem e o cartão de crédito. "Em um mês a gente paga uma conta, em outro paga outra, vamos dando um jeito nas coisas", diz. Com uma renda de R$ 720, Danilo Nogueira divide as despesas com o companheiro Adriano Ales­­si, também técnico em enfermagem, que tem uma renda de R$ 900. Economizar, nem pensar, pelo menos por enquanto. "Não tem como ter uma re­­serva. O principal é terminar a faculdade, o restante a gente vai vendo com o tempo", diz. Além da faculdade de Nogueira, a prestação do carro, um Fiesta 2006, consome outra parte da renda. O carro foi comprado em 60 vezes. O sonho é se formar para poder ganhar mais e comprar um imóvel.

Informalidade

Embora todas as classes sociais sejam afetadas, em maior ou menor grau, pela inadimplência, alguns fatores tornam a situação da classe D mais complicada. "A diferença é que os mais pobres não têm poupança", afirma Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. De acordo com ele, o aperto no fim do mês é reflexo de dois fatores. Primeiro, a renda dessa faixa da população ainda é muito baixa. Segundo, que entre os mais pobres é comum parte da renda vir do trabalho informal. "O volume de pessoas que não têm carteira assinada é maior entre as classes D e E, que complementam a renda com bicos e trabalhos temporários. E esse tipo de atividade têm grande oscilação", afirma Meirelles.

As contas de água, luz e telefone são as principais despesas para essa faixa da população. O aluguel e a alimentação vêm em segundo e terceiro lugar. "A percepção geral é de que as despesas como luz e telefone são mais altas porque esses custos não são fixos. As famílias estão comprando mais eletrodomésticos, mais telefones e estão acessando a internet, e com isso as contas de energia e de telefone também crescem", afirma Oliveira, da Paraná Pesquisas.

Educação

Um dado que chama a atenção é que entre os mais pobres o número de famílias que dizem que gastam muito com educação é menor do que nas classes A e B. Famílias que estão no topo da pirâmide gastam mais em escolas e cursos particulares, o que faz com que esse tipo de gasto seja o principal para 11,39% dos entrevistados dessa faixa de renda. Entre os de menor renda, apenas 5,16% disseram que esse é o principal gasto. Na hora de comprar, a classe D prefere parcelar as suas compras no cartão da loja e no carnê.

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