Um ano e meio após a realização da Copa do Mundo, 66% dos comerciantes do entorno da Arena da Baixada, em Curitiba, dizem não ter tido nenhum retorno do investimento que fizeram em seus estabelecimentos para atender aos turistas. Apenas um terço dos entrevistados considerou seus resultados razoáveis, apesar de reconhecer efeitos positivos no bairro e até na cidade.
A conclusão é do estudo Impacto Econômico da Copa do Mundo, realizado pela consultoria Brain, especializada em inteligência corporativa. Foram ouvidos 80 empresários instalados nas proximidades do estádio, 84% deles dedicados ao varejo.
O objetivo foi verificar o que, de fato, a Copa trouxe para Curitiba. A pesquisa mostra que apenas uma pequena parte dos entrevistados (16%) fez investimentos em melhoria de infraestrutura motivados pelo evento.
Expectativa inflada
“A principal leitura é a comparação entre a expectativa e o resultado real. Esperava-se muito mais do que de fato a Copa rendeu. Mas também poderia ter sido mais positivo se houvesse maior engajamento e preparo ajustado ao potencial do evento”, diz o economista Fábio Tadeu de Araújo, sócio da consultoria Brain.
Para ele, o grau de frustração é determinado pelo nível de expectativa e dá a ideia de que a Copa não valeu a pena. Em alguns casos, superestimar os resultados não permitiu que o empresário reconhecesse bons efeitos.
“Teve gente que vendeu o dobro e não viu isso como positivo porque esperava algo maior do que o evento renderia na realidade. É preciso aprender a balizar a euforia e o pessimismo para aproveitar as oportunidades adequadamente”, diz.
É certo que a Copa foi frustrante em muitos aspectos. Jogos de equipes pouco populares, fechamento de parte do comércio na região da Arena, fluxo baixo de turistas estrangeiros e os curtos períodos de permanência dos visitantes na cidade não contribuíram muito para o movimento efervescente esperado antes do início da competição. “Mas o legado no médio e longo prazo não pode ser desprezado, como as melhorias nos estabelecimentos e equipes mais bem treinadas”, observa a consultora Walderes Bello, do Sebrae-PR.
Cafeteria mantém práticas de gestão adotadas para a Copa
O Bisa Basílio nasceu um ano antes da Copa do Mundo. A bióloga Letícia Rocha Loures quis aproveitar o imóvel da família e abriu o café em sociedade com a mãe, em agosto de 2013. O Mundial não foi a principal motivação, mas influenciou parte da gestão do negócio. “Tínhamos dúvidas em como poderíamos oferecer uma atendimento mais adequado, então participamos das reuniões de capacitação do Sebrae”, diz.
Foi por causa do treinamento que a empresária decidiu participar do projeto de souvenires de Curitiba, que mantém até hoje no café um espaço dedicado à venda de lembrancinhas da cidade.
Outra prática que permanece é a pesquisa de satisfação do cliente, feita em cartões distribuídos nas mesas e que funcionam como um termômetro do serviço prestado.
Letícia lembra que o movimento nos dias de jogos foi intenso, com muitos estrangeiros consumindo no local. Mas teve de fechar o café nos dias de jogos do Brasil por falta de clientes. “Acabou equilibrando durante a Copa, mas agora o fluxo está estabilizado”, diz.
64 empresas
das regiões da Arena, Centro Histórico e Aeroporto Afonso Pena participaram de treinamentos preparatórios para a Copa, entre 2013 e 2014. Para a consultora do Sebrae Walderes Bello, os resultados positivos também dependem da continuidade de boas práticas de gestão e possíveis mudanças que os empresários tenham adotado no preparo para o evento. “Esse conhecimento não tem prazo de validade”, diz.
Maturidade
Entender o próprio negócio e buscar crescimento para aproveitar as oportunidades são exemplos de ganhos que os empresários envolvidos no projeto Copa do Sebrae demonstram no Centro Histórico, em Curitiba. Na avaliação de Walderes Bello, a mobilização dos comerciantes na organização de novos eventos e atração do público é um indício de maturidade conquistada durante o Mundial. “Demonstram que entenderam a importância do fortalecimento do grupo e aproveitam para ganhar visibilidade entre turistas e moradores. E é aplicável no dia a dia e em outros momentos de maior movimento nessas áreas”, diz.
Vitrine
Os projetos urbanos realizados por causa do Mundial – ainda que concluídos após o evento – e a boa avaliação das condições do aeroporto e do receptivo contribuíram para uma imagem positiva de Curitiba. O resultado tem sido maior atração de turistas de lazer, na avaliação da diretora do Instituto Municipal de Turismo de Curitiba, Cristiane Santos, que cita o número de visitantes da Torre Panorâmica como um dos indicativos. Em 2014, o lugar recebeu 117 mil pessoas. Neste ano, mesmo fechada por 30 dias e sem abrir às segundas-feiras, foram 100.597 visitantes até agora.
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