Se o tempo é de prejuízo para os produtores de batata, os agricultores que plantaram milho nesta safra estão rindo à toa. Movidos pelo aumento do consumo dos grãos para produzir álcool nos Estados Unidos, os preços do produto dispararam no mercado internacional.
Em janeiro, a tonelada do milho chegou a ser vendida por US$ 153,29, alta de 61% em relação a setembro do ano passado, último mês antes da disparada das cotações. É o preço mais alto desde maio de 1996. Tanta rentabilidade tem animado quem plantou milho na última safra e vem trazendo boas perspectivas para o futuro dos negócios.
Na região de Maringá, no Noroeste do Paraná, o entusiasmo para o plantio é tanto que já é difícil encontrar sementes para comprar. "Estamos com falta de sementes no mercado. As principais produtoras de semente não fizeram um prognóstico de que a demanda ia aumentar desse jeito e agora os agricultores estão numa corrida desenfreada às lojas", diz Rodolffo Corradini, engenheiro agrônomo que trabalha numa loja de sementes. Segundo ele, as vendas cresceram 30% este mês em relação ao ano passado.
O engenheiro agrônomo Juliano Fracasso, que produz milho na região, vai dobrar a área de plantio do grão para a safra de inverno, que começa a ser plantada em fevereiro.
"Todo mundo vai aumentar a área plantada e ainda investir mais em tecnologia. Os produtores são um povo de fé. Se vêem oportunidade de melhorar, eles apostam nela", diz.
Milho dos EUA vai para o álcool
A oportunidade de que fala o produtor nasceu em solo estrangeiro: vem dos planos ambiciosos do presidente dos EUA, George W. Bush, de reduzir o consumo de gasolina no país e estimular o uso de combustíveis "limpos", que causam menos danos ao meio ambiente do que o petróleo, como o álcool que nos EUA, é feito de milho. A meta de Bush é reduzir em 20% o consumo de gasolina no país nos próximos dez anos.
"Por conta do maior uso de milho para etanol nos EUA e perspectivas de crescimento grande no curto prazo, há falta de milho no mercado internacional", diz o analista de agronegócio da MB Associados, José Carlos Hausknecht.
Os EUA são o principal exportador de milho do mundo. Em 2006, o país vendeu mais de 40 milhões de toneladas para Japão, México, Coréia do Sul, Egito e União Européia. A redução nos estoques norte-americanos abre espaço para a entrada de outros exportadores: de 2005 para 2006, as exportações do milho brasileiro saltaram de 1 milhão de toneladas para 3,9 milhões de toneladas.
A previsão para 2007 é de que as vendas cheguem a 5 milhões. "A tendência é de que isso continue. Temos que nos preparar para atender aos países que deixarão de ser atendidos pelos EUA". Juntos, os países importadores de milho compraram 48 milhões de toneladas no ano passado.
Fugindo dos riscos
Para o analista da MB Associados, nem tudo são previsões otimistas: a onda de aumento nos preços do milho e o conseqüente encarecimento dos meios de produção podem diminuir a rentabilidade da produção de álcool nos EUA, o que pode prejudicar a fase "áurea" do produto.
"Se o álcool à base de milho deixar de ser um bom negócio, o governo norte-americano pode se dedicar mais a estudar outras fontes de energia limpa, como combustíveis de biomassa", afirma.
Além disso, a empolgação com o produto pode resultar em outro efeito colateral: o excesso de produção, que recentemente derrubou os preços da batata e obrigou os produtores a jogarem toneladas delas no lixo, por pura falta de planejamento.
Para o produtor Juliano Fracasso, ficar com o milho "encalhado" nos estoques não é uma opção. "Tudo o que eu vou produzir a mais já está vendido antecipadamente. Não dá para correr esse risco".