Os fundos
Os recursos que Merkel e Sarkozy querem tirar dos países gastadores não são os dos fundos de emergência criados na crise das dívidas.
Fundos estruturais
O Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e o Fundo Social Europeu são conhecidos como fundos estruturais, administrados pela Comissão Europeia, que financiam projetos de desenvolvimento, como infraestrutura e educação, com o objetivo de reduzir as diferenças econômicas e sociais na zona do euro. O orçamento deles para o período 2007-2013 é de 201 bilhões de euros e 76 bilhões de euros, respectivamente.
Fundo de Coesão
Atualmente tem os mesmos objetivos e regras dos fundos estruturais. Foi criado em 1990 para ajudar países com menor crescimento econômico a investir. O orçamento para 2007-2013 é de 70 bilhões de euros.
Vizinhos
Espanha e Itália pedem eurobônus
Espanha e Itália, ameaçadas pela crise, elogiaram as propostas, mas ainda alimentam esperanças em relação à instituição dos eurobônus títulos da dívida que seriam assumidos pela zona do euro como um todo e, na prática, seriam um "refresco" para as nações mais irresponsáveis do ponto de vista fiscal.
Em Madri, o governo espanhol celebrou as medidas como um passo rumo aos títulos comuns. "Quanto mais nos movemos rumo à integração da política econômica, mais perto chegamos dos títulos europeus", disse o porta-voz do partido governista, Jose Blanco. A ideia de bônus da zona do euro foi rejeitada, contudo, por Merkel e Sarkozy.
Na Itália, o líder do partido governista, Fabrizio Cicchitto, disse ao Parlamento que o país está de acordo com a estratégia franco-alemã. Ele também disse esperar que a Alemanha mude de ideia sobre os títulos europeus. "Esperamos que Merkel fique convencida do valor dos títulos europeus em setembro", acrescentou. (Folhapress)
Depois de lançar propostas para fortalecer o euro que não convenceram o mercado, a Alemanha e a França defenderam ontem punições para países que não agirem para controlar o rombo nas contas públicas. Os dois países que juntos representam quase a metade da economia da zona do euro pedem que os governos não comprometidos com a redução do déficit público percam acesso aos fundos europeus de desenvolvimento. A proposta foi feita em carta enviada ontem pelos líderes ao presidente do Conselho Europeu, o belga Herman van Rompuy.
Esses fundos são diferentes daqueles usados para socorrer os países em crise. Eles foram criados para ajudar a reduzir as desigualdades entre os países da União Europeia e aumentar a competitividade da região. Na prática, o dinheiro é usado para projetos sociais, de infraestrutura e outros investimentos. No período de 2007 a 2013, os dois fundos estruturais e o de coesão tiveram um orçamento de 347 bilhões de euros, cerca de 40% do orçamento europeu.
O castigo sugerido pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, para os países que não buscarem equilibrar as contas valeria de 2014 a 2020. O orçamento dos fundos para o período ainda não foi fechado.
Rombos
A União Europeia estabelece que os países do bloco devem manter o déficit público abaixo de 3%, mas na prática poucos países cumprem a meta. Se a proposta for colocada em prática, até a França poderia perder os fundos. No ano passado, o déficit público francês foi de 7%. Por isso, o texto cobra medidas dos governos, mas não resultados. Os países que quiserem continuar a acessar os fundos devem "seguir as recomendações de medidas para reduzir o déficit excessivo".
A carta traz as propostas anunciadas na terça-feira por Merkel e Sarkozy para criar um "verdadeiro governo econômico", como o pedido para os países da zona do euro incluírem nas suas legislações as metas de déficit público até meados de 2012. E pede para que discutam a criação de um imposto comum para empresas.
Reuniões
A carta reitera também que os chefes de Estado e de governo da zona do euro deveriam realizar encontros semestrais ou quando necessário, em sessão extraordinária, para checar se os países estão implementando as regras previstas no Pacto de Estabilidade e Crescimento, discutir problemas individuais dos países e requisitar decisões para evitar a crise. A intenção é reforçar ainda mais a governança na zona do euro, em linha com os tratados existentes.
Merkel e Sarkozy propuseram também que o Mecanismo de Estabilidade Europeu (ESM, em inglês) que em 2013 irá substituir a Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês) seja equipado com capacidades analíticas adicionais, em particular voltadas à análise dos mercados de capital e de dívida, para complementar a análise e as recomendações feitas pela Comissão Europeia, pelo Banco Central Europeu e pelo FMI.
Para analistas, anúncio recicla ideias antigas
Os investidores tiveram uma reação morna às propostas anunciadas ontem por Nicolas Sarkozy e Angela Merkel. Para muitos analistas, as medidas são retóricas, com um conteúdo questionável. Segundo Malcolm Barr, do JPMorgan Chase, "decisões difíceis sobre sanções para aqueles que descumprirem as regras fiscais e o grau de soberania que os países estão dispostos a abrir mão permanecem sem resposta".
Merkel admitiu não acreditar que os problemas da zona do euro possam ser resolvidos de uma só vez. Mas o que ela e Sarkozy sugeriram é decepcionante, pois parece uma série de ideias recicladas. Um exemplo é a proposta de que todos os membros do bloco incluam nas suas constituições, até meados do ano que vem, emendas sobre ter um orçamento equilibrado.
Essa cláusula já existe na Constituição da Alemanha, onde é chamada de "freio da dívida", e Merkel quer exportá-la para seus vizinhos, tentando agradar à população alemã e ao Parlamento do país, que não querem pagar pelos problemas fiscais dos outros. Mas, durante uma reunião da cúpula da União Europeia, em março, Merkel não conseguiu convencer os outros chefes de Estado a adotar a medida.
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