A Alemanha tem a segunda maior reserva de ouro do mundo, atrás somente dos Estados Unidos| Foto: Michael Dalder/Reuters

Peter Boehringer odeia a palavra "conspiração" e qualquer tipo de loucura atrelada a esse conceito. Basta passar alguns minutos com esse alemão de 45 anos para notar que ele é obcecado por organização.

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Feroz crítico do euro, ele é um dos fundadores de uma campanha para levar de volta a Frankfurt todas as reservas de ouro da Alemanha. E não são poucas.

O país tem quase quase 3.400 toneladas do metal, guardadas em Frankfurt e fora de suas fronteiras — em Londres, Paris e Estados Unidos, onde está mais da metade desse tesouro. Mais precisamente na Rua Liberty, número 33, em Nova York, nos cofres da sede do Federal Reserve (Fed), o banco central americano.

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Boehringer é representante de uma tribo de investidores apaixonados e acadêmicos céticos que desconfiam de bancos centrais e de dinheiro de papel — a não ser que o governo troque esse dinheiro por ouro e prata.

Diretor de uma empresa de investimento especializada em metais, ele fundou uma ONG, a Sociedade de Metais Preciosos da Alemanha, para "educar" o público sobre a "loucura do sistema monetário sem lastro". Seu lema é "Repatriem nosso ouro".

"Vi que algumas coisas do sistema financeiro não fazem sentido. Vi o quão destrutivo pode ser o dinheiro de papel. Ouro traz uma riqueza segura e estável", avalia.

Medo da União Soviética

A Alemanha tem a segunda maior reserva de ouro do mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Essa riqueza viajou para além-mar por conta da História.

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Após a II Guerra Mundial e o renascimento das exportações do "milagre econômico" da Alemanha Ocidental na década de 1950, o banco central acumulou dólares e trocou por ouro. Com a Alemanha então dividida entre o Ocidente capitalista e a República Democrática Alemã (RDA), comunista, no Leste até 1990, guardar o metal no exterior era uma estratégia de mantê-lo longe de um eventual alcance soviético durante a Guerra Fria.

Investidores como Boehringer argumentam que todo esse ouro dever retornar para Frankfurt. Sustentam que o tesouro fique em território alemão, seguro, para nunca haver o risco de um confisco para, por exemplo, chantagear a Alemanha a manter a união monetária.

A teoria parece, de fato, conspiratória. O governo conservador da chanceler federal alemã, Angela Merkel, não vê motivo para desconfianças. Mas há vozes oponentes no Bundestag, o Parlamento alemão.

Pressões políticas de grupos opositores — e até de algumas vozes do governista União Democrata Cristã (CDU) fizeram o Bundesbak, o banco central alemão, enviar uma delegação ao cofre do Fed em 2012 para verificações pontuais ao tesouro. A instituição, responsável pelo ouro, alega ser sensato guardar parte das reservas fora do país para que elas possam ser trocadas mais facilmente por moeda estrangeira em caso de emergência.

A pressão deu algum resultado. O Bundesbak concordou parcialmente com os críticos e começou a transferir parte do tesouro de Paris para Frankfurt — alegando que França e Alemanha têm a mesma moeda, o euro. E um montante do ouro armazenado em Londres e Nova York deve ser levado de volta para casa até 2020.

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674 toneladas

No ano passado, foram repatriados para Frankfurt 120 toneladas de ouro — 35 toneladas de Paris e 85 de Nova York.

"A aplicação do nosso novo conceito de armazenagem de ouro corre sem dificuldades. Estamos cumprindo bem o cronograma previsto", afirmou o diretor do banco central alemão, Carl-Ludwig Thiele.

O plano é transferir nos próximos cinco anos 300 toneladas de ouro dos cofres do Fed e 374 toneladas de Paris. Desde o início da repatriação do ouro em 2013, o Bundesbank levou para Frankfurt 157 toneladas — 67 de Paris e 90 de Nova York, ou seja, 23% da quantidade total prevista para retornar à soberania germânica.

De toda o ouro alemão, cerca de 35,2% (1.192 toneladas) estão em Frankfurt; 42,8% (1.447 toneladas) em Nova York (Fed); 12,9% (438 toneladas) no Banco Central da Inglaterra em Londres, e 9,1% (307 toneladas) no Banco da França, em Paris.

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