O vice-presidente José Alencar disse nesta terça-feira (6), durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto, que o Banco Central deveria acatar ordens políticas do governo na hora de decidir o valor da taxa básica de juros, a Selic. Crítico da alta dos juros, Alencar disse que essa questão é política e não técnica.
"Olha, eu não tenho nada contra o Copom [Comitê de Política Monetária]. Nós trabalhamos com o regime de metas de inflação. Mas, eu não quero discutir com o Copom porque essa não é uma questão técnica, é política. E o que temos que fazer é dar uma ordem ao Banco Central para que pratique uma taxa de juros de mercado. Nem mais, nem menos", argumentou Alencar. O Copom se reúne no final do mês para decretar a nova taxa de juros.
Ele fez questão de ressaltar que gosta do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, mas não perdeu a oportunidade de cutucar o colega de governo. "Dizem que ele tem os méritos de conter a inflação. O Brasil vai bem apesar da política monetária, não graças à política monetária. Eu sempre disse isso, mas nunca escreveram dessa forma. Em oito anos, ela vai consumir mais de R$ 1,3 trilhão dos cofres públicos", comentou.
Demonstrando como a insatisfação com a questão o acompanha diariamente, Alencar tirou do bolso do paletó uma tabela da consultoria econômica Uptrend enquanto falava com os jornalistas e comparou os juros praticados no mundo. "A taxa média básica de juros reais no mundo é de 0,3%. Nos países desenvolvidos, essa taxa básica média de juros reais é de 0,5%. Nos países emergentes, é de 0%. E no Brasil, a taxa média real dos juros é 8%. Isso é inexplicável".
Encontro
Alencar lembrou ainda que se reuniu com Meirelles na véspera de uma decisão do Copom. "Ele veio aqui conversar comigo um dia antes de uma reunião do Copom. E, no dia seguinte, houve um aumento de meio ponto percentual. Vai ver era para ser 0,25% e depois da conversa virou 0,5%", brincou o vice-presidente. Ele não citou quando foi o encontro, mas a última vez que o BC aumentou a taxa básica de juros foi em abril.
O vice-presidente disse ainda que vai parar de falar sobre os juros, porque conseguiu contaminar o restante da sociedade com seu discurso. "Eu não preciso mais falar sobre os juros, porque todo mundo já está reclamando e falando", comentou.
"Os juros no Brasil são uma tribuzana, como dizia papai. E nem vou mudar falando que é uma trabuzana, como diz o dicionário", brincou. Segundo o dicionário Aurélio, trabuzana é sinônimo de dilúvio, tempestade e incômodo.