Os preços administrados, que no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiram 18% em 2015 e ajudaram a manter pressionada a inflação dos serviços em razão do repasse da alta de custos, devem ter forte alívio este ano, mas a maior contribuição para a desaceleração dos preços do setor virá do aumento do desemprego e da queda da renda, decorrentes da recessão. É o que preveem economistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, a respeito da influência dos reajustes mais brandos dos preços monitorados na inflação de serviços. A dúvida é sobre o momento em que a deterioração do mercado de trabalho terá esse efeito mais forte para a inflação.
Ainda na casa de 8% no fechamento de 2015, a inflação de serviços do IPCA em 12 meses desacelerou para 7,88% em janeiro. “(a inflação de serviços) Não mostrava sinais de desaceleração há algum tempo. É a mais baixa desde setembro de 2012. Este pequeno alívio começa a refletir os efeitos defasados do desaquecimento do mercado de trabalho”, avaliou o economista William Michon Jr, da Saga Capital.
Já os preços administrados em 12 meses até janeiro têm alta de 17,22%, ante 18,08% em dezembro. De acordo com a pesquisa Focus, a mediana das previsões do mercado para os administrados em 2016 é de avanço de 7,70%. Em boa medida, o que vai favorecer um ajuste bem menor este ano são os preços de energia, que podem até registrar deflação, em função da mudança da cor do sistema de bandeiras tarifárias. Após a bandeira permanecer vermelha durante todo o ano passado, em março passará para amarela, que tem custo mais baixo, e poderá ir para verde em abril.
“Os preços monitorados vão ajudar a segurar a inflação de serviços, mas o grande determinante será o mercado de trabalho, já que a mão de obra é o principal fator na estrutura de custos das empresas do setor”, disse o economista Pedro Ramos, do Banco Sicredi. Ele lembra que energia elétrica, com aumento “monstruoso” de 51% em 2015, pesa mais para determinados segmentos de serviços, como salões de beleza, shopping centers, academias de ginástica e lavanderias, por exemplo, enquanto salários e encargos trabalhistas atingem a todos.
Na medida em que o desemprego aumenta, a renda disponível para o consumo, principalmente de serviços, diminui, afetando a demanda. Nesse contexto, quem consegue manter-se ocupado está negociando reajustes salariais menores do que no passado, o que também pressiona para baixo a massa salarial.
Além de ver a inflação de serviços um pouco mais “amena” este ano devido à descompressão dos preços administrados, especialmente em energia elétrica, o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, acredita que a
o câmbio menos pressionado e o ambiente recessivo também contribuirão para esse movimento. “A boa notícia é que a alta dos administrados já foi liberada e teve o ajuste do câmbio, finalmente”, disse.
Ritmo
Contudo, há dúvidas sobre em que ritmo esse processo de alívio se dará, em função, principalmente, do elevado nível de indexação da economia, pelo qual uma série de reajustes contratuais obedece à inflação passada, além da regra de aumento do salário mínimo, que também engessa os custos com mão de obra. Paulo Picchetti, economista e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), cita ainda o chamado “efeito farol” do reajuste do salário mínimo, que serve de parâmetro para correção de uma série de outros preços. “Os principais elementos a puxarem serviços para cima são educação e empregados domésticos, por causa do salário mínimo”, lembrou Ramos, do Sicredi.
Alguns profissionais acreditam que esse arrefecimento dos preços de serviços ocorrerá de forma mais significativa somente em 2017, como André Perfeito, da Gradual, para quem no próximo ano os ajustes salariais tendem ser menores em relação a 2016. “Se tivermos um IPCA de cerca de 7,00% este ano, com um PIB estimado em -3,00% em 2015, o crescimento dos salários pode ficar em torno de 4%”, estimou. Em 2016, o salário mínimo sofreu reajuste de 11,6%.
Já para Picchetti, da FGV, a inflação de serviços terá comportamento bem mais brando já este ano, tendo em conta “o tamanho do ajuste que começamos a ver no mercado de trabalho”.
Em condições “normais”, a inflação de serviços demoraria de seis a nove meses para reagir à recessão, disse o economista André Chagas, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Porém, ele observa que, com o aumento do desemprego na indústria, algumas pessoas ainda estão conseguindo se ajeitar no setor de serviços. “O setor cresceu bastante nos últimos 20 anos e parece que ainda tem potencial para crescer. Pode ser uma justificativa para essa resiliência (da inflação de serviços)”, citou.
O economista da Fipe recomenda cautela sobre o comportamento destes preços, que, por enquanto, não mostram tendência de arrefecimento relevante. O Índice Geral de Serviços (IGS) atingiu 1,45% e acumulou 11,88% em 12 meses em janeiro, ante 1,37% e 10,79% do IPC. A despeito de todas as possíveis fontes de abrandamento para preços do setor neste ano, Chagas afirma que uma desaceleração mais expressiva pode nem acontecer. “Ainda tem muita gente indo para este mercado’, disse.
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