A elevação da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em renda fixa para estrangeiros, anunciada nesta segunda-feira (4) pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, deve surtir efeito para conter a queda do dólar no curto prazo, segundo economistas ouvidos pelo G1. No longo prazo, no entanto, a medida, não deve alterar a tendência de queda da moeda dos EUA.
"Não vai alterar o quadro de valorização do real, porque é o dólar que está fraco globalmente", diz Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil.
Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, faz avaliação semelhante: "pela magnitude do movimento, que é de dobrar o imposto, deve ter sim efeito na moeda no curto prazo no câmbio. Da outra vez que houve medidas nesse sentido, só teve um efeito pontual no câmbio, mas que logo foi absorvido pelo fluxo de dólares que era mesmo muito grande. Desta vez acredito que haverá o impacto (de alta do dólar) no curto prazo, mas só o tempo vai dizer se vai se sustentar".
Para Leal, a medida já era esperada pelo mercado. "Depois que a eleição foi para o segundo turmo ficou um pouco a discussão se ia ter um adiamento. Uma vez que vai ter o segundo turno o mercado ficou em dúvida", afirma. Outro indício de que a medida seria anunciada essa semana foi a participação de Mantega e Meirelles participando de reuniões da campanha de Dilma no fim de semana. "Foi uma decisão também política".
O dólar baixo, segundo os economistas, gera preocupação no mercado financeiro em relação às empresas exportadoras, que ganham menos. "medidas como essa aumentam o interesse do investidor em empresas exportadoras", diz Leal.
"Do ponto de vista do mercado financeiro, o dólar baixo gera problemas queda nas exportações e crescimento intenso das exportações, como está acontecendo agora. Mas também representa um reflexo de um momento positivo, em que muitos investidores querem aplicar dinheiro no mercado brasileiro", aponta Campos Neto. "Isso representa a atratividade que o Brasil tem hoje para investidores globais, para renda fixa, bolsa, por conta do potencial de crescimento da economia acima do que o resto do mundo".
Alta do IOF
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou nesta segunda-feira (4) que o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) será elevado, a partir de terça, de 2% para 4% para os investimentos estrangeiros em renda fixa. Para os investimentos de residentes em outros países em bolsa de valores, não haverá mudanças, de acordo com o ministro.
Segundo ele, o objetivo da medida é evitar uma queda maior do dólar, o que prejudicaria ainda mais as exportações brasileiras, que se tornam mais baratas quando a moeda norte-americana recua. "Estamos preocupado em não permitir que o real se valorize para não prejudicar os exportadores brasileiros, e também o mercado local, que passa a ter uma concorrência a preços baixos dos importadores", disse ele.
Interesse 'crescente' de estrangeiros com juros brasileiros altosO ministro acrescentou que, em sua visão, há um "interesse crescente" dos investidores no Brasil. "Essa medida vai reforçar o que foi feito há um ano atrás [quando a alíquota do IOF para estrangeiros subiu de zero para 2% para bolsas de valores e renda fixa]. De lá para cá, houve uma certa estabilidade do real, entre R$ 1,70 e R$ 1,80. Mas achamos que o interesse está crescente", disse o ministro, citando o alto nível dos juros brasileiros atualmente em 10,75% ao ano.
Segundo ele, os juros brasileiros altos proporcionam, aos investidores estrangeiros, um ganho, uma vez que a taxa de juros que vigora no exterior é menor. "Eles pegam dinheiro emprestado, vêm aqui, aplicam a 10,75% ao ano e ganham na diferença. Isso é chamado de 'carry trade'. Dessa maneira, estamos diminuindo essa vantagem. Essa diferença entre os juros brasileiros, que são altos, e os juros externos. Essa medida neutraliza essa diferença de juros", explicou o ministro da Fazenda.
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