A quatro meses do encerramento do ano, as construtoras e incorporadoras brasileiras precisam pisar no acelerador para cumprir as metas de lançamentos previstas para 2010.
Na primeira metade de 2010, as principais empresas do setor entregaram, em média, 40 por cento das estimativas traçadas para o ano. Embora o ritmo seja considerado normal para o setor, que tem a tradição de intensificar a produção no segundo semestre, a disponibilidade de imóveis novos ficou aquém do esperado pelo mercado até agora.
"Os lançamentos abaixo do esperado esgotaram os estoques, cujo valor ao final do segundo trimestre era estimado em 2,8 bilhões de reais, o que significa apenas quatro meses de vendas", afirmou o UBS em relatório recente.
O setor habitacional vem sendo beneficiado pela forte expansão de crédito, aumento da renda e também pelo programa do governo "Minha Casa, Minha Vida".
Entre os analistas que acompanham o setor, a Cyrela Brazil Realty é apontada como a companhia que mais decepcionou em termos de lançamentos, tendo cumprido apenas 25 por cento do ponto médio da faixa estimada para o ano de 6,9 bilhões a 7,7 bilhões de reais. As vendas, por outro lado, atingiram 40 por cento da meta.
O caso da Cyrela confirma a tendência vista nos últimos trimestres, em que a aquecida velocidade de comercialização de imóveis leva as vendas a avançarem mais rapidamente que os lançamentos.
Nesse sentido, a aceleração de lançamentos no segundo semestre se torna fundamental para evitar o risco, embora remoto, de revisão para baixo das metas de vendas, considerando uma possível indisponibilidade de estoques para atender a demanda.
"Quem não conseguiu lançar está vendendo estoque e, se não cumprir meta de lançamentos, pode não cumprir 'guidance' de vendas", destacou o analista Eduardo Silveira, da Fator Corretora.
Silveira se preocupa "ainda mais" com o ritmo de entregas. "As empresas estão produzindo, mas enfrentam dificuldade para entregar os imóveis por gargalos burocráticos."
Embora acompanhe apenas o mercado paulista, o sindicato que representa o setor Secovi-SP ressaltou em agosto a necessidade de se produzir no segundo semestre em torno de 19,4 mil unidades e lançar cerca de 24 mil para atender a atual expectativa de demanda na cidade de São Paulo. Nos seis primeiros meses de 2010, foram lançadas 13.566 unidades.
ESTOQUES DEVEM SEGUIR BAIXOS
Os sinais de recuperação da oferta de imóveis devem ser vistos já a partir do trimestre corrente, na visão de analistas, que projetam um cenário confortável para grande parte das companhias.
A aceleração dos lançamentos rumo ao cumprimento das metas, contudo, não deve ser suficiente para fazer os estoques crescerem de forma significativa.
"Os estoques estão realmente baixos para a maioria das empresas. Os lançamentos vão se recuperar no segundo semestre, mas os estoques vão continuar baixos, se considerarmos o ciclo do setor, que é de dois anos", afirmou o analista David Lawant, do Itaú.
Com exceção da Cyrela, que deve ter concentração maior de lançamentos no quarto trimestre, "como sempre fez", Lawant estima uma melhora global nos números de lançamentos das demais empresas.
A opinião é compartilhada pelo analista da Fator, que não vê "nenhuma empresa correndo perigo" e destaca Rossi Residencial e PDG Realty como as mais bem "encaminhadas".
Até junho, a PDG atingiu 41 por cento do centro da meta de lançar entre 6,5 bilhões e 7,5 bilhões de reais em 2010, um ponto percentual acima da Rossi, que fez 40 por cento dos 3,3 bilhões de reais previstos. A Gafisa, por sua vez, ficou um pouco abaixo desse patamar, com 38 por cento de sua estimativa atingida.
A MRV Engenharia é a única das empresas do setor listadas em bolsa e cujas ações estão na carteira teórica do Ibovespa a não apresentar um "guidance" oficial para lançamentos. Mas, em entrevista à Reuters em maio, o vice-presidente financeiro da MRV, Leonardo Corrêa, disse que os lançamentos deveriam atingir "pelo menos 4,5 bilhões de reais" no ano. Com base nesse valor, o realizado no primeiro semestre foi de 38 por cento.
MAIS AMBIÇÃO EM 2011
Ao traçar um cenário de metas alcançadas por todas as principais companhias do setor, alguns analistas projetam metas ainda maiores para o ano que vem.
"Vamos ver metas mais ambiciosas em 2011. Projetamos, em média, 15 a 20 por cento de aumento de lançamentos em 2011", disse o analista Marcos Pereira, da Votorantim Corretora. O analista Lawant, do Itaú, espera alta entre 10 e 20 por cento para o próximo ano.
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