Aliado de primeira hora de Michel Temer e desenvolto articulador do impeachment de Dilma Rousseff, o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), presidente da Força Sindical e do partido Solidariedade, encontra-se na delicada posição de atacar as reformas trabalhista e previdenciária (no que cumpre seu papel de representante de trabalhadores) sem criticar diretamente o recém-efetivado presidente (com quem trocou gentilezas nos últimos meses).
A forma que o sindicalista encontrou para passar seu recado foi pôr nos mensageiros a culpa pelas reformas que o chefe do Executivo já disse – publicamente – querer implantar. Mas ficou claro que a relação entre os dois estremeceu.
SAIBA MAIS sobre a reforma da Previdência
Em nota divulgada na semana passada, Paulinho da Força disse, com a sutileza peculiar, que as declarações de “setores do governo” que falam em mexer em direitos são “delirantes”, “inoportunas” e “levadas adiante por palpiteiros de plantão com ideias que se assemelham às do Professor Pardal”.
“Entendemos que quaisquer mudanças na legislação trabalhista e previdenciária devam ser amplamente discutidas com a sociedade e com os representantes dos trabalhadores, de forma democrática e transparente. É estranho e temerário tentar fazer reformas às pressas e na calada da noite”, escreveu o sindicalista, para em seguida cobrar que Temer cumpra o que acordou com as centrais sindicais, como a manutenção de direitos.
Os alertas são uma prévia das dificuldades que Temer encontrará para aprovar as reformas no Congresso, a começar pela da Previdência. Como o governo demonstra disposição em levá-la adiante, uma ruptura com o principal interlocutor nas centrais sindicais pode ser inevitável.
Para aprovar as mudanças na legislação, portanto, restará ao Executivo tentar convencer outros setores da sociedade – já veio a público a ideia de lançar uma campanha de “conscientização” – e, claro, sensibilizar deputados e senadores, não se sabe bem como.
Existe uma clara divisão na própria base aliada sobre a forma de discutir todas as propostas do governo, que, além de alterações nas leis previdenciárias e trabalhistas, incluem um teto de gastos que vai afetar o financiamento da saúde e da educação. Há quem defenda a concentração de esforços em um projeto de cada vez, mas alguns parlamentares sustentam que tentar aprovar todas as reformas de uma só tacada – a tática do “rolo compressor” – reduziria o desgaste político do governo e dos próprios deputados e senadores.
Sem segredo
Por mais que Paulinho prefira creditar as ideias de reforma a “setores do governo”, não é segredo a intenção de Temer de dificultar a aposentadoria precoce e tornar mais flexíveis as relações de trabalho. São objetivos conhecidos desde a divulgação, quase um ano atrás, do documento “Uma ponte para o futuro”, do PMDB, apresentado à imprensa pelo próprio Temer, então vice-presidente da República.
No caso específico da Previdência, o presidente em pessoa – e não um auxiliar “Professor Pardal” – pregou semanas atrás, com todas as letras, sobre a necessidade de fixar idade mínima para a aposentadoria, entre outras medidas que Paulinho classificou de “delira=ntes”.
É verdade que, logo que assumiu como interino, Temer defendeu a necessidade de negociar a reforma previdenciária com representantes dos trabalhadores para se chegar a um consenso, ou então ao “maior consenso possível”. Após algumas reuniões, se deu conta de que não existe reforma de consenso – se é que em algum momento ele realmente acreditou que existia.
“As centrais vão acabar não apoiando, seja qual for a reforma. Vamos mandar ao Congresso e ver o que acontece”, admitiu Temer em entrevista na qual previu uma “luta feroz” para aprovar as mudanças.