| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Sinara Polycarpo ficou conhecida no noticiário econômico em 2014 depois de enviar uma carta aos clientes do Santander, banco em que trabalhava na época, alertando sobre os riscos de mercado com a reeleição de Dilma Rousseff. O relatório custou o emprego da executiva, então diretora da Superintedência de Consultria de Investimentos. Ela foi funcionária do banco por oito anos.

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A assertividade das suas análises não foi a única resposta à ex-funcionária do Santander. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região de São Paulo deu ganho de causa à Sinara na ação movida contra o Santander pela demissão sem justa causa. A indenização vai custar ao banco R$ 450 mil. A decisão foi assinada pela juíza Lucia Toledo Rodrigues. A decisão foi tomada em 1.ª instância e o banco ainda pode recorrer.

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De acordo com o despacho da juíza, que indeferiu o pedido por danos morais, mas acatou os argumentos por danos materiais, a indenização deve cobrir recebimentos de horas extras, reconhecimento de bônus, desvio de função e honorários advocatícios, requeridos pela analista.

O Santander negou na ação que a demissão de Sinara Polycarpo tenha tido cunho político e afirmou que a demissão ocorreu porque a ex-funcionária violou norma de conduta do banco ao não ter revisado um texto de análise financeira elaborado por uma de suas subordinadas, evitando assim “publicações com conotações político partidárias”.

Entenda o caso

O texto que causou polêmica falava sobre as condições ruins da economia brasileira no ano passado, com “baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta corrente”, e citava também “quebra de confiança e pessimismo crescente em relação ao Brasil”, vinculando esse quadro à queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff. O alerta aos clientes era de que a Bolsa poderia cair ainda mais, o real se desvalorizar e os juros subirem em caso de uma subida de Dilma nas pesquisas de intenção de voto.

No entendimento da juíza, o texto do Santander vinculando a situação da economia ao quadro político trazia a mesma análise feitas por outros profissionais do mercado financeiro. Para a juíza, seria “desleal com os clientes do banco esconder tais circunstâncias”. A juíza acatou o argumento da analista de que o Santander foi submisso ao governo ao demitir a analista e pediu desculpas publicamente como foi solicitado “arbitrária e grosseiramente” pelo ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Em discurso público, Lula se dirigiu ao então presidente do Santander, Emílio Botín, dizendo:

“Ô Botín, é o seguinte, meu querido: manter uma mulher dessa num cargo de chefia, sinceramente....Pode mandar embora e dá o bônus para mim”, afirmou Lula. O banco fez um pedido de desculpas formal ao governo brasileiro e desligou a funcionária.

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Na ocasião, Sinara afirmou que a dispensa ocorreu por “discriminação política”, prejudicando sua imagem pessoal e profissional e taxando-a de “agitadora política”.

Procurado, o Santander não se pronunciou sobre a decisão da juíza. A analista informou à Agência O Globo que ainda não havia sido informada dos detalhes da decisão da justiça do Trabalho por seu advogado e preferiu não fazer comentários.