Alvo de críticas nos últimos dias por financiar alguns frigoríficos brasileiros com operações na região Norte, acusados de comprarem gado criado em áreas desmatadas, o BNDES avalia lançar um programa de rastreamento e monitoramento sobre a cadeia agropecuária, de acordo com o presidente do banco, Luciano Coutinho.
O executivo disse que está "muito preocupado" com a situação dos frigoríficos no país e prometeu novas medidas para aperfeiçoar os critérios de financimento do banco.
Sem dar muitos detalhes do programa de rastreamento, Coutinho disse que a sua elaboração seria, no entanto, muito complexa.
"Estamos trabalhando para fazer avançar uma agenda eficaz no sentido de rastreabilidade e controles. Não é fácil", afirmou a jornalistas. "São várias medidas e vamos desenvolver sistemas específicos para isso... Será um controle sobre toda a cadeia, todo o sistema", acrescentou.
Coutinho defendeu que os governos estaduais e municipais desenvolvam programas locais para matadouros e frigoríficos de menor porte.
"Com os grandes frigoríficos, que são poucos no país, podemos exercer nossa influência sobre a qualidade das condutas. O que preocupa é a carne de empreendimentos pequenos e informais, ilegais no país, onde há matadouros clandestinos. Um programa local, financiando equipamentos e com vigilância, é importante", analisou Coutinho.
O presidente do BNDES admitiu que o banco, no momento, não tem como fiscalizar se o empréstimo concedido a um frigorífico esteja sendo mal utilizado.
"Nós exigimos e cobramos compromissos das empresas. Existe um papel de fiscalização na ponta para saber se as fazendas estão regulares ou não que precisa ser feito pelo IBAMA e entidades locais", declarou.
"Como o sistema não é perfeito, contamos com o apoio de ONGs, mas sinceramente acho um pouco covardia que exijam que o BNDES, que tem 2 mil funcionários aqui no Rio, consiga controlar isso lá na ponta, no interior. Acho importante esse acompanhamento da sociedade", finalizou.
Algumas empresas do setor de carne bovina estão enfrentando restrições de grandes redes de supermercados, que querem barrar o processamento de gado que tenha sido criado em áreas que foram desmatadas em locais como o Pará.
Alguns grandes grupos de carne bovina divulgaram comunicados negando o uso desse tipo de rebanho, mas fiscais do governo federal continuam investigando a situação.