Na manhã de ontem, os funcionários da fábrica de caminhões Volvo engrossaram a massa de trabalhadores parados na região metropolitana de Curitiba. Somados à Renault e à Volkswagen, agora são 11,1 mil empregados diretos das três montadoras de veículos em greve por reajuste salarial.
Os dez dias de braços cruzados na Volks somados aos oito da Renault já resultam em 14,3 mil automóveis a menos sendo produzidos, enquanto a Volvo ontem deixou de fabricar 50 caminhões, 50 cabines e 40 motores. Isso significa uma perda de aproximadamente 40% da produção mensal, justamente quando as empresas estariam no sprint dos últimos dias de IPI reduzido, que volta a subir em 1º de outubro.
As negociações dos trabalhadores, intermediadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC), permanecem rejeitando as propostas patronais, que oferecem 2% de aumento real mais a reposição inflacionária (4,44% do INPC) e um abono de R$ 2 mil.
Apesar de analistas do setor automotivo avaliarem que a indústria de veículos ainda detém boa saúde financeira, reflexo de anos seguidos de resultados positivos, dados estaduais mostram que o ritmo das montadoras do Paraná ainda está bastante inferior ao que se teve em 2008 (veja matéria ao lado).
Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), nos últimos quatro anos os metalúrgicos tiveram aumento real médio de 3,28%. De acordo com o economista do Dieese Cid Cordeiro, a oferta de 2% representa pouco frente às últimas negociações. "Os salários médios do setor em Curitiba continuem 50% inferiores aos dos metalúrgicos do ABC Paulista", avalia.
Os empresários, por outro lado, argumentam que os impactos da crise derrubaram o setor dados da Anfavea apontam que a produção de automóveis acumulada entre janeiro e agosto está 8,5% inferior ao mesmo período do ano passado.
Analistas do mercado automotivo avaliam, no entanto, que as montadoras no Brasil não passam por problemas de saúde financeira. O consultor do setor automotivo e diretor da Trevisan Consultoria Olivier Girard avalia que o fechamento da produção de dezembro repetirá os resultados de 2008, que foi um ano muito bom para o setor. "Se houver queda, será muito ligeira. É verdade que nesse ano houve uma diminuição violenta nas exportações, mas o mercado interno teve boa reação com a diminuição do IPI. Um praticamente anulou o outro. A saúde financeira das empresas no Brasil está boa, bem diferente das nos Estados Unidos", diz.
A análise da consultoria CSM Worldwide é ainda mais ousada: em nível nacional, ela estima ao fim do ano um volume de vendas 9% superior ao que se teve em 2008, com produção praticamente estabilizada (menos 0,8%).