Após sete meses consecutivos de expansão, as vendas do comércio brasileiro caíram 0,3% no mês de outubro em relação a setembro, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Paraná, a queda foi um pouco maior, de 2%. Na comparação com outubro de 2007, houve crescimento de 7,9%, um pouco abaixo da média nacional, que ficou em 10%.
A interrupção na trajetória de alta na passagem de um mês para outro é interpretada pelos analistas como reflexo da crise financeira no setor. O resultado de outubro é o primeiro a consolidar dados de um mês completo desde o agravamento da crise nos Estados Unidos, em meados de setembro.
Para o economista coordenador da pesquisa do IBGE, Reinaldo Pereira, o resultado pode ser relativizado. "Esta pode ser considerada uma queda pontual, ainda não é possível afirmar que seja efeito da crise. É preciso aguardar e ver os resultados de novembro e dezembro para consolidar uma curva descendente, mas até o fim do ano o setor pode se recuperar", acredita.
Já a economista Thais Marzola Zara, da consultoria Rosenberg & Associados, avalia que, embora tenham sido relativamente positivos na comparação com o ano passado, os números do comércio deixam evidente uma desaceleração da atividade econômica.
"A pesquisa começa a refletir o início de um comportamento que deve se aprofundar nos próximos meses. Isso significa que ainda há muito para piorar, acompanhando a chegada da desaceleração ao mercado de trabalho", avalia.
A economista explica que, por ora, os setores mais afetados são os que mais dependem do crédito. "Mas a perspectiva é ruim para todos os setores", pondera.
Carros e construção
No chamado comércio varejista ampliado que também contempla o segmento de varejo mais as atividades de vendas de veículos, motos, peças automotivas e materiais de construção , em todo o Brasil, houve crescimento de 3,7% no volume de vendas em relação a outubro de 2007 e de 9,2% na receita nominal de vendas.
O resultado foi reduzido com o impacto da queda de 7,3% nas vendas de veículos, motos e peças em relação ao mesmo mês do ano anterior. Nas vendas de materiais de construção, a variação foi positiva em 4,1%. No Paraná, o varejo automotivo apresentou desempenho negativo de 5,1%, e nos materiais de construção a queda foi maior, de 9,1%.
Atividades
Em relação a setembro, das dez atividades pesquisadas, somente três registraram crescimento em outubro: livros, jornais, revistas e papelaria (3,6%); equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (1,4%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,2%).
Os desempenhos foram negativos nas atividades de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-0,1%); hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,2%); móveis e eletrodomésticos (-0,9%); combustíveis e lubrificantes (-1,1%); material de construção (-1,9%); tecidos, vestuário e calçados (-4,4%); e veículos e motos, partes e peças (-19,9%).
Na comparação com outubro do ano passado, a maior alta nas vendas foi verificada nas lojas de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (44,1%). Por outro lado, por causa do forte peso na pesquisa (cerca de 30%), a atividade de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que registrou alta de 7,4% nessa base de comparação, deu a maior contribuição porcentual (3,6 pontos, ou 36% do crescimento) para o crescimento das vendas totais do varejo no mês.
Na taxa mensal do volume de vendas do varejo, apenas o Pará apresentou resultado negativo, de -0,3%, na comparação entre outubro deste ano com outubro de 2007. Dentre as demais unidades da federação, as que mais se destacaram foram Paraíba (26,2%); Rondônia (16,8%); Roraima (16,8%); Acre (15,7%) e São Paulo (14,1%).