| Foto: Daniel Castellano / AGP/Daniel Castellano / AGP

O secretário de Comércio da Argentina, Miguel Braun, defendeu nesta terça (23) em Washington mudanças no processo decisório do Mercosul para destravar negociações de tratados comerciais com outros países e blocos econômicos.

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Também afirmou que um acordo de livre comércio com o Brasil no setor automotivo “é um dos instrumentos” que estão em sendo discutidos entre os dois países, mas não indicou um prazo para sua implementação.

Primeiro alto funcionário argentino a visitar os Estados Unidos desde a posse do presidente Mauricio Macri, em dezembro, Braun buscou projetar uma imagem de abertura de seu país, enfatizando o contraste com o governo da antecessora, Cristina Kirchner.

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“Depois de uma década de populismo, o estado do Estado é calamitoso”, afirmou, durante apresentação no centro de estudos Atlantic Council. Ele disse que os ajustes para o novo modelo serão graduais e o objetivo é firmar parcerias estratégicas. “A Argentina está novamente aberta aos negócios”.

Nesse sentido, expressou um forte apoio da Argentina à negociação de acordos comerciais entre o Mercosul e outros países e regiões. Citou como exemplos o Canadá, a Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México, Peru e Costa Rica) e a Parceria Transpacífico, tratado de livre comércio firmado em outubro do ano passado entre Estados Unidos e outros 11 países.

No horizonte mais curto, o presidente Mauricio Macri disse em entrevista nesta semana que o tratado de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, que começou a ser negociado há mais de 15 anos, poderá ser assinado em até 30 dias, após avanços na parte agrícola. Para Braun, uma conjunção de interesses no bloco abriu “uma janela de oportunidade histórica” para os membros do Mercosul.

“É a primeira vez desde a sua criação que todos os quatro países fundadores realmente querem olhar para o mundo e se engajar de forma construtiva, por diferentes motivos. O Brasil hoje tem uma indústria muito competitiva, quer sair e fazer novos acordos de comércio”, disse. “Concordamos com nossos parceiros brasileiros em que este é o momento de irmos juntos ao mundo.”

Braun não citou em nenhum momento a Venezuela, que o presidente Macri defendeu suspender do Mercosul por supostamente violar a “cláusula democrática”. Mas ressaltou que é necessária uma reforma institucional do bloco sul-americano para facilitar sua integração ao comércio global.

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“Há uma oportunidade de rediscutir algumas das instituições que impediram a integração do Mercosul com o mundo, e uma delas é que tudo deve ser aprovado por consenso”, disse Braun. “Mas consenso não significa necessariamente unanimidade e essa é uma das áreas que precisamos discutir com nossos parceiros.”

Apesar do discurso em defesa da abertura comercial, Braun foi cauteloso ao falar sobre o acordo automotivo com o Brasil. A Argentina resiste à proposta brasileira de livre-comércio de veículos e autopeças entre os dois países, temendo perdas devido à perda de competitividade sofrida com a desvalorização da moeda brasileira.

“Vamos trabalhar juntos para que o setor automotivo nos dois países cresça. O objetivo é que a produção aumente”, disse Braun à reportagem. Ele acrescentou que o acordo de livre comércio “é um dos instrumentos que estão em discussão, mas ainda não se chegou a um acordo”.

Os dois governos anunciaram na semana passada que um acordo de livre comércio para o setor automotivo é um plano “de longo prazo”, após encontro em Buenos Aires na semana passada entre os ministros Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), pelo Brasil, e Francisco Cabrera (Produção), pela Argentina.

Com isso, frustrou-se a expectativa do Brasil de implementar o livre comércio em substituição ao acordo automotivo de isenção de impostos, que vence no dia 30 de junho.

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Ao exaltar a abundância de recursos energéticos na Argentina, tanto fósseis como renováveis, Braun citou o Brasil. “Há essa velha piada que as pessoas geralmente associam ao Brasil, mas que se aplica à Argentina também. O Brasil é o país do futuro e sempre será. A Argentina tem esse grande potencial e sempre terá, a menos que nós façamos algo a respeito”, disse Braun.