Com um tom considerado mais suave, o Banco Central (BC) informou, por meio da ata do Copom divulgada nesta quinta-feira, que vê melhores perspectivas para a inflação desde junho. Com isso, o mercado começou, mesmo que sutilmente, a reforçar um pouco a perspectiva sobre a possibilidade de o ciclo de aperto monetário ser interrompido em agosto.
"É uma ata um pouco mais 'dovish'(suave) que a anterior. O BC começa a sinalizar o fim do ciclo em breve. Ele ressalta que há menos incertezas para o cenário doméstico e mais para o internacional. Não está fechada a próxima reunião, em função do ambiente de incertezas", afirmou o economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.
O texto da ata, no entanto, também traz que ainda são relevantes os riscos sobre o descompasso entre oferta e demanda, apesar de que esses sinais "tendem a diminuir".
"O Copom entende que o cenário prospectivo para a inflação, desde sua última reunião, mostra sinais mais favoráveis", afirmou a autoridade monetária.
A ata do Comitê de Política Monetária divulgada nesta manhã refere-se à reunião da semana passada, quando a Selic foi elevada pela quinta vez seguida, em 0,25 ponto percentual, para 12,50 por cento. O Copom manteve muitos pontos da ata anterior, mas retirou a expressão "suficientemente prolongado" usada até então para indicar os próximos passos.
Para a autoridade monetária, o ritmo de expansão da demanda doméstica continua em moderação, movimento favorável às perspectivas para a atividade econômica. Na ata anterior, quando tratou do assunto, o BC havia colocado que essa moderação tinha "ritmo ainda incerto", expressão que não usou no documento divulgado nesta quarta-feira.
"Ao analisarmos a ata, encontramos sinais de que o processo de aperto monetário, ou seja, de elevação de juros, deva entrar num processo de pausa a partir de hoje. O Copom demonstrou que a demanda doméstica já não causa a grande série de impactos na inflação e corrobora com o cenário de juros estáveis", afirmou o analista econômico da corretora Cruzeiro do Sul Jason Vieira.
Sobre as projeções de inflação, o BC manteve suas contas para 2012 pelo cenário de referência, mas manteve a indicação que ela está "acima do valor central" da meta do governo, de 4,5 por cento pelo IPCA.
Para este ano, as projeções foram elevadas, mas mantidas em "acima do centro da meta", como trouxe o documento passado. Muitos agentes econômicos veem com ceticismo o ritmo da inflação, considerando ainda elevado.
Na última pesquisa Focus, por exemplo, o mercado prevê que o IPCA fechará este ano a 6,31 por cento, equanto que em 2012, a 5,28 por cento.
Sobre o cenário externo, o BC voltou a afirmar que houve deterioração adicional dos mercados internacionais.
As avaliações não contemplaram, no entanto, o anúncio do pacote de ajuda à Grécia, de 109 bilhões de euros, que ocorreu um dia depois da reunião do Copom, dia 20. Também não embute a piora no cenário norte-americano, com o impasse cada vez maior entre democratas e republicanos para elevar o teto da dívida do país e evitar um default inédito.