A ata do Copom, divulgada nesta quinta-feira (18), mostrou que a crise internacional está no centro das atenções do Banco Central e que a autoridade monetária está sensível a reduzir o ritmo de aperto monetário para combater os efeitos da turbulência externa. Embora a reunião do Copom tenha sido na quarta-feira passada, quando o pior da crise ainda não havia sido visto - com a concordata do banco de investimentos Lehman Brothers, a compra do Merrill Lynch pelo Bank of America e o socorro do governo norte-americano à seguradora AIG -, o documento já dirige o seu foco para cenário internacional, que começa a ter influência direta nas decisões de política monetária.
Tanto que foi por causa da percepção de desaquecimento econômico global e de seu efeito sobre os preços das commodities que três integrantes do Copom consideraram mais adequada uma alta de 0,5 ponto porcentual no juro básico (taxa Selic), em vez do 0,75 ponto afinal decidido pela maioria. Como as incertezas se intensificaram desde a reunião do Copom, o argumento dos três dissidentes ficou ainda mais fortalecido. E, por isso, operadores do mercado financeiro consideram que, dependendo da evolução da atual crise, o ciclo de aumento dos juros brasileiros, que começou em abril, pode ser interrompido em breve.
"Dependendo dos impactos da crise nas condições de crédito, exportações e confiança dos empresários, é possível que o PIB sofra uma desaceleração significativa no próximo ano, tornando desnecessária uma continuidade na alta dos juros pelo BC", afirma a analista Marcela Prada, da Tendências Consultoria Integrada.
Segundo a ata, os três votos dissidentes se basearam no fato de haver "sinais de acentuada deterioração da atividade nas economias centrais, acarretando certa melhora nas perspectivas inflacionárias globais, em parte em função da queda dos preços de commodities".
A lógica é que, em momentos de crise, os bancos ficam mais seletivos na concessão de crédito. E, no Brasil, como boa parte dos investimentos produtivos e da oferta de crédito vem sendo financiada por recursos captados no exterior, essa fonte deve secar, ou ficar mais cara. Além disso, com o mercado externo em desaquecimento, o espaço para exportação dos produtos brasileiros diminui. Nesse ambiente, é provável que parte dos projetos de investimento em expansão das empresas seja suspensa.
Os riscos também ficaram maiores, segunda a ata, pelo movimento de "desalavancagem financeira sobre as condições creditícias". Ou seja, a ata mostra preocupação com os ajustes que os mercados financeiros vêm sofrendo, com investidores estrangeiros vendendo diferentes ativos para reduzir sua exposição a risco. Movimento que ficou ainda mais intenso esta semana, depois da concordata do Lehman Brothers. "A ata mostrou que o efeito da turbulência externa não é só a alta do dólar, mas também a queda de commodities, o contágio financeiro e a queda da oferta de crédito", afirma o economista da CM Capital Markets, Tony Volpon.
Mesmo assim, o Copom considerou que a alta de 0,75 ponto porcentual era mais adequada por causa do consumo ainda aquecido, que segue sendo um risco para a inflação. E, de agora em diante, o BC terá a difícil missão de encontrar qual a melhor medida para equilibrar a pressão da demanda doméstica e os efeitos da turbulência internacional. "Na ata, o Banco Central comprou a opção de diminuir a alta de juros, mas com certeza não sabe ainda o que deverá ser a melhor atitude em outubro", afirma um operador.
Mas o que determinou o rumo das taxas dos contratos de juros futuros hoje não foi a ata do Copom, mas a continuidade do movimento de zeragem de posição de investidores estrangeiros e locais. Segundo operadores, há muitos players se desfazendo de posições em diferentes mercados com o objetivo de fazer caixa e cobrir perdas no exterior, e assim melhorar o desempenho de seu portfólio. Por causa dessa pressão, os juros futuros dispararam hoje. "Os bancos no exterior estão sendo desafiados e, por isso, precisam diminuir posição em investimentos especulativos", afirma um profissional. Esse movimento havia atingido fortemente a Bovespa nos últimos dias, e agora chegou ao mercado de renda fixa. A taxa do contrato de DI futuro com vencimento em janeiro de 2010, o mais negociado, disparou a 15,30%, de 14,85% da véspera.
Além dos juros futuros, investidores também têm vendido títulos públicos prefixados (LTN e NTN-F) e também NTN-B (papel corrigido ao IPCA) no mercado secundário. Por causa disso, os juros desses papéis também dispararam. Para se ter uma idéia, a NTN-B com vencimento em 2010 foi negociada nesta quinta-feira à taxa de 9,21%. Na segunda-feira, esse papel tinha taxa de 8,88%.
Diante da clara redução de apetite por risco prefixado, o Tesouro Nacional decidiu hoje fazer um leilão "enxuto" de títulos públicos, notadamente no que diz respeito aos papéis prefixados. Foram ofertados apenas 500 mil títulos da LTN com vencimento em 1/4/2009. Mas só foram efetivamente vendidos 150 mil. Em momentos de volatilidade, é considerado prudente que o Tesouro reduza, ou até suspenda a oferta de papéis prefixados. Isso porque as taxas pedidas pelos investidores são baseadas no contrato de juros futuros de prazo equivalente, que, em momentos de nervosismo, sobe a níveis distorcidos. Quando o Tesouro considera que o prêmio de risco pedido pelo mercado para comprar os prefixados é exagerado, não vende parte dos papéis ou até mesmo a oferta inteira.
O Tesouro também ofertou até 300 mil LFT (papel pós-fixado) distribuídas entre os vencimentos 7/9/2012 e 7/9/2014. Como a taxa de juros que remunera esses papéis será a vigente na data do vencimento, tais títulos não representam grande risco para o investidor e, por isso, a oscilação não segue o comportamento da observada nos prefixados.
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