A incerteza causada pela intervenção frequente do governo empurrou a moeda norte-americana de volta ao patamar de 1,70 real nesta sexta-feira, para o maior nível desde 28 de setembro.
A moeda norte-americana subiu 0,77%, para 1,709 real. Na semana, marcada por um aumento das restrições do governo ao capital especulativo e pela alta do juro na China, o dólar teve valorização de 2,6%.
A alta do dólar foi determinada à tarde, após uma entrevista do secretário do Tesouro, Arno Augustin, à Agência Estado. Ele afirmou que as emissões externas em reais serão frequentes, de olho no câmbio, e voltou a citar que o Fundo Soberano está pronto como uma demonstração extra de força.
Após uma semana em que o governo elevou a 6 por cento o imposto sobre capital estrangeiro em renda fixa, elevou a taxação dos depósitos de margem de garantia na bolsa e vetou operações aos investidores não-residentes com derivativos - como o uso de cartas de fiança -, bastou uma intervenção verbal para pressionar outra vez o dólar.
O estrategista de um banco em São Paulo, que preferiu não ser identificado, citou que, além das medidas do governo, a acomodação do mercado internacional na última semana também ajudou a dar firmeza para a taxa de câmbio.
"O euro chegou a 1,41 dólar e agora ele deu uma segurada, para 1,39", disse, em referência à máxima da moeda europeia desde janeiro, registrada na semana passada.
Estrangeiro compra dólares no mercado futuro
Marc Chandler, da Brown Brothers Harriman, oferece visão parecida sobre a conjuntura global do câmbio. "O ímpeto de baixa do dólar diminuiu, após a moeda cair de forma incansável desde o começo do mês passado... A prudência sugere uma redução das posições vendidas em dólares."
Esse movimento já tem ocorrido no mercado brasileiro, mesclado com a incerteza dos estrangeiros sobre a intervenção do governo. Desde o fim da semana passada, a posição vendida líquida dos investidores não-residentes diminuiu em 25%, ou 4 bilhões de dólares, na BM&FBovespa.
Na visão de José Raymundo de Faria Jr., diretor técnico da Wagner Investimentos, o dólar pode caminhar para 1,75 real caso supere a barreira de 1,72 real. Mas, "enquanto ele estiver abaixo das concentrações de 1,72, ele continua na sua tendência de médio prazo de baixa", afirmou.
Para a próxima semana, a agenda norte-americana deve trazer volatilidade, segundo Faria Jr., com o mercado atento a sinais sobre o provável estímulo monetário a ser anunciado na próxima reunião do Federal Reserve, na semana seguinte.
Além disso, o resultado da reunião do G20, neste fim de semana na Coreia do Sul, será monitorado pelos agentes. De acordo com uma fonte, a China se opõe a uma meta para as contas correntes, conforme sugerido pelos Estados Unidos.