Custos maiores de energia e água estão chegando aos preços dos serviços, como cabeleireiros.| Foto: Leticia Akemi/ Gazeta do Povo

A disparada das tarifas vem punindo duplamente o bolso do brasileiro neste ano. Além de já ter imposto um gasto adicional na conta de luz, a alta de preços de outros itens importantes como água e combustíveis deve adiar para 2016 a desaceleração da inflação de serviços. O movimento ocorre apesar da retração no ritmo de atividade econômica e da demanda, que poderia brecar reajustes de preços dos serviços já neste ano.

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Um estudo feito pela Tendências Consultoria Integrada mostra o tamanho do estrago que as tarifas devem provocar na inflação de serviços. Sem o choque de preços administrados, a inflação de serviços – como cabeleireiros, restaurantes, lavanderias e hotéis, por exemplo –, que encerrou o ano passado acumulando alta de 8,3%, recuaria este ano para 7,1%. Com as pressões das tarifas, porém, a inflação dos serviços deve ficar praticamente estacionada e fechar 2015 em 8%, diz a consultoria.

“A expectativa de inflação desancorada e o choque de preços administrados vão retardar a desaceleração da inflação de serviços”, diz a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências, que projeta alta menor, de 6,5%, para a inflação de serviços só em 2016. Segundo ela, com a expectativa de inflação geral medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na casa de 5,5% para o ano que vem, segundo pesquisa do Boletim Focus do Banco Central, aumentaram os obstáculos para uma desaceleração mais significativa dos preços dos serviços neste ano.

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Além do choque dos preços administrados e da inércia inflacionária, Alessandra aponta outro fator que influencia a inflação de serviços: o desempenho do mercado de trabalho. Na avaliação da economista, os efeitos do aumento da taxa de desemprego para segurar o reajuste dos preços dos serviços deve ser anulado neste ano pelo impacto do choque das tarifas e da inércia inflacionária. E os reflexos da distensão do mercado de trabalho serão sentidos nos preços dos serviços em 2016.

Já o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, faz uma avaliação sobre a inflação de serviços semelhante à da Tendências, porém com intensidade diferente. “A desaceleração dos serviços vai ocorrer ainda neste ano. Mas a grande perda de fôlego deve acontecer em 2016, quando a inflação desse grupo pode chegar perto de 7%. É mais provável que, no encerramento deste ano, a inflação de serviços fique abaixo da de 2014”, prevê Romão. Para 2015, o economista projeta alta de 7,7% da inflação de serviços.

Ele reconhece que houve, nos últimos meses, um aumento relevante de custos de energia e combustível, por exemplo, e que essa alta deve pressionar os preços dos serviços. “Se eu sou prestador de serviços, vou tentar repassar esse aumento de custo para o preço. Só que há uma força contrária, que é a atividade econômica enfraquecida, que não chancela grandes repasses. É um jogo de forças.”

Nesse jogo de forças, um fator crucial, diz Romão, é o desempenho do mercado de trabalho. A expectativa para este ano é de uma queda de 1,2% na renda, descontada a inflação do período. Será a primeira retração real no rendimento em dez anos. A última vez que a renda caiu em termos reais foi em 2004 e coincidentemente o recuo também foi de 1,2%.

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