A produção brasileira de autopeças tem perdido espaço para as importações. Desde 2007, o setor registra importações superiores às exportações, desequilíbrio considerado grave pelas empresas do setor.Para este ano, a previsão do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) é de déficit de, pelo menos, US$ 3,6 bilhões. O presidente da entidade, Paulo Butori, acredita que o quadro seja ainda pior e chegue a superar US$ 4 bilhões. Os culpados, segundo ele, são o real valorizado e a crise. Juntos, esses dois fatores tornam o Brasil um mercado atraente para os fornecedores estrangeiros de autopeças.
Para tentar eliminar o problema, o Sindipeças decidiu retomar uma disputa antiga com as montadoras: uma lei que desde 2000 reduz em 40% o Imposto de Importação de componentes automotivos trazidos por sistemistas (como são chamados os fornecedores diretos instalados nos complexos industriais) e montadoras. Na prática, enquanto os beneficiados pela lei trabalham com alíquotas entre 9% e 11%, as fabricantes que fornecem autopeças fora da linha de montagem pagam a alíquota cheia, que varia entre 14% e 18%.
Paulo Butori afirma que solicitou ao governo a equiparação do imposto para as montadoras e o varejo e diz que o problema deverá estar resolvido até o fim deste ano. "O governo está muito preocupado com o setor, que é superavitário e agora está com déficit. Só não sei como o governo mudará isso, porque é preciso mudar a lei e, neste ponto, enfrentamos uma indústria muito poderosa, que é a automobilística", afirma Butori.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, diz que é preciso considerar os investimentos realizados pelas montadoras. Segundo ele, igualar a alíquota cobrada trará danos às empresas. Schneider argumenta ainda que há peças que nem são produzidas no Brasil.
"Não sei se aumento de tarifa aumenta a competitividade, pois isso envolve outras questões, como custos tributários e de logística", afirmou o presidente da Anfavea na semana passada, durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), em Brasília.
Outro ponto apresentado por Paulo Butori é o aumento dos preços de commodities como o aço. De acordo com o presidente do Sindipeças, a matéria-prima representa 20% do custo do material siderúrgico. No entanto, o aço afeta entre 60% e 70% o custo de produção de pequenas e médias estamparias. "Com a o benefício da alíquota reduzida, é mais vantajoso para as montadoras importar a estamparia pronta", exemplifica Butori.
Maior importação vem do Japão
Os baratos produtos chineses ainda não são temidos pelo setor de autopeças. Na lista de importações, a China está em 7º lugar no primeiro trimestre deste ano, com US$ 161,7 milhões exportados para o Brasil. Quem lidera as vendas para o mercado brasileiro é o Japão, com US$ 476,8 milhões, seguido de Alemanha (US$ 415,8 milhões), Estados Unidos (US$ 350,8 milhões), Argentina (US$ 298,9 milhões), França (US$ 220,5 milhões) e Itália (US$ 169,7 milhões).
Automec 2010
Enquanto o governo não toma uma posição, o Sindipeças organiza no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo, a segunda Automec Pesados e Comerciai. O objetivo é aproximar as fabricantes brasileiras dos 50 compradores internacionais que participam do evento, de países como Argentina, Colômbia, México, Emirados Árabes Unidos e África do Sul. "São potenciais importadores de nossos produtos, isto é muito importante diante da queda das nossas exportações", observa o presidente do Sindipeças.