A ausência de baixas contábeis no balanço trimestral da Petrobras relacionadas às denúncias de corrupção da Operação Lava Jato da Polícia Federal decepcionou analistas e investidores, que continuam sem uma orientação clara sobre o valor justo dos ativos da estatal.
A Guide Investimentos disse que o balanço do terceiro trimestre de 2014 divulgado pela Petrobras na madrugada desta quarta-feira (28) foi "uma peça de ficção". Já a XP Investimentos questionou qual a utilidade do documento "se não tem baixa contábil".
Na Bovespa, as ações da Petrobras, que acumulam perda superior a 70% em relação à máxima história atingida em 2008, desabavam nesta sessão cerca de 10% perto das 14h.
Em relatórios, analistas apontaram que a companhia divulgou o balanço para atender as obrigações com credores, sem ter incluído a dimensão das perdas decorrentes do sobrepreço de contratos que beneficiou ex-funcionários, executivos de fornecedoras e políticos, segundo investigação do Ministério Público Federal.
Os dados operacionais de receita e produção da Petrobras referentes ao terceiro trimestre do ano passado já eram conhecidos, mas a publicação do balanço completo que deveria ter ocorrido em novembro foi atrasada devido à Lava Jato e a não concordância de auditores de ratificar os números.
"Impraticável"
A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, disse no balanço que a empresa concluiu "ser impraticável a exata quantificação destes valores indevidamente reconhecidos, dado que os pagamentos foram efetuados por fornecedores externos e não podem ser rastreados nos registros contábeis da companhia".
Ao mesmo tempo, a companhia disse que continua trabalhando para produzir demonstrações financeiras auditadas.
Embora não tenha efetivamente reduzido o valor de seus ativos, a Petrobras apresentou um cálculo indicando potenciais baixas contábeis de mais de R$ 60 bilhões.
As estimativas que circularam na imprensa para as baixas contábeis eram de R$ 10 bilhões a mais de R$ 50 bilhões.
Segundo a corretora Planner, o valor da baixa contábil sugerido no balanço de R$ 60 bilhões é equivalente a 17,5% do patrimônio líquido da Petrobras no fim de setembro de 2014 ou 47,7% do valor de mercado da empresa, considerando as cotações de terça-feira.
Para a equipe da Planner, a preocupação de investidores sobre a saúde financeira da empresa vai continuar, até que se divulgue qual será de fato o nível do ajuste nos ativos imobilizados.
Em outra frente, o analista Marcel Kussaba, da Quantitas Asset Management, cita o temor no mercado de que a delicada situação financeira da companhia possa ter impacto em sua política de dividendos, à medida em que a estatal busque preservar caixa.
Projeções
Com a divulgação do balanço, a Petrobras também forneceu projeções para geração de caixa operacional, investimentos e produção de petróleo em 2015, estimando uma situação de "folga em relação aos valores que julgamos suficientes para manter nossas operações com a liquidez necessária ao longo do ano".
Na avaliação do Credit Suisse, o orçamento estimado pela empresa de US$ 31 bilhões a US$ 33 bilhões neste ano representa um corte de 20% sobre o investimento anual recente.
"Com relativamente pouca disposição de investidores nos últimos dias para começar a comprar ações da Petrobras, um corte de 20% nos investimentos poderia ser uma boa 'desculpa' para fazer isso", escreveram os analistas Andre Sobreira e Vinicius Canheu, do Credit.
Por outro lado, o Credit Suisse alertou que a Petrobras ainda está "um pouco longe de desalavancagem significativa e sem fluxo de caixa positivo no curto prazo, importante fonte de criação de valor e fundamental para trazer investidores de longo prazo" para as ações da companhia.
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