Montadoras compensam falta de crédito no mercado com financiamento próprio

Renault aposta no crédito fácil para manter índice de vendas. Grupo PSA Peugeot Citroën investirá R$ 700 milhões no país em 2009.

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O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, disse nesta sexta-feira, 31, que o governo estuda a possibilidade de que bancos públicos como a Caixa Econômica Federal (CEF), Banco do Brasil (BB) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já na semana que vem passem a financiar a compra de veículos para o consumidor, "dependendo da rapidez com que se consiga implementar".

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"Não falamos de valor, não comentamos sobre montantes, até porque isso é uma decisão dos bancos, mas falamos fundamentalmente sobre conceitos e houve uma clara receptividade, uma receptividade muito forte, no sentido de que os bancos olhariam isso a partir da semana que vem com muito mais atenção. Falamos sobre atividade mais forte de bancos públicos em relação a esse tema. Não temos nenhuma medida concreta ou específica, até porque estamos conversando sobre isso." "CEF pode ser uma opção, BB pode ser uma opção. De alguma forma, eventualmente, mais ligada a caminhões e ônibus, o BNDES pode ser uma opção. A Nossa Caixa aqui do Estado de São Paulo também pode ser uma opção", acrescentou.

Em reunião realizada nesta tarde, com a participação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e dos presidentes das principais montadoras do País, na capital paulista, as empresas apresentaram suas reclamações sobre a restrição de crédito que consumidores têm encontrado nas concessionárias para adquirir veículos. "Hoje você não encontra o crédito. Ou você encontra com uma restrição muito difícil. Na prática, hoje existe uma restrição muito grande desse crédito."

No encontro, do qual Mantega e Meirelles saíram sem falar com a imprensa, Schneider destacou que as conversas não envolveram a compra de carteiras de crédito das financeiras das montadoras, conforme prevê a Medida Provisória 443, que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional. "Não falamos de compra de carteiras de financeiras das montadoras. Nós falamos de funding específico na ponta. É diferente", afirmou. "Nós falamos da possibilidade de os bancos passarem a ou atuar na ponta de uma maneira mais direta ou atuar na ponta de maneira indireta, através de parcerias com bancos que tradicionalmente operam nessa ação de comercialização de veículos através de financiamentos", acrescentou.

Essa parceria significaria a liberação direta de recursos para instituições que financiam veículos. Diante da insistência dos repórteres sobre a eventual compra de carteiras dessas financeiras, Schneider respondeu: "Comprar carteira pode ser uma ação, mas não acho que é a mais efetiva."

Os efeitos da crise por que passa o sistema financeiro já estão afetando as vendas das companhias neste mês de outubro. Schneider não soube precisar até que ponto as empresas serão prejudicadas. "Nós não temos o número fechado de outubro, mas eu fui claro no sentido de que já estamos vendo queda nas vendas em outubro. Não sei e não vou especular sobre ela", disse. Ele insistiu, no entanto, que é preciso planejamento para que essa redução nas vendas não seja ainda maior no futuro.

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Schneider disse que as montadoras acreditam que as recentes medidas anunciadas pelo governo e que liberaram parte do compulsório recolhido pelos bancos passem a ter efeito no mercado já na semana que vem. "Nós já estamos vendo algum efeito disso na ponta. Por isso, a importância dessas medidas no sentido de prevenir e oferecer ao consumidor o volume de crédito que ele está buscando e não está encontrando", declarou.

O presidente da Anfavea ressaltou que a questão do crédito ao consumidor foi a única apresentada pela entidade ao governo. Na quarta-feira (29), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, na abertura do Salão Internacional do Automóvel, em São Paulo, que as montadoras poderiam apresentar todo o tipo de queixa ao governo na reunião desta sexta.

"A dificuldade clara que o setor está vivendo é a restrição de crédito na ponta", destacou. Ele reafirmou que as montadoras não vivem qualquer outra dificuldade neste momento. "O que existe é que a montadora está produzindo para vender e nem todos os veículos estão sendo vendidos pela restrição do crédito", acrescentou. De acordo com dados da Anfavea, os financiamentos são responsáveis por 70% das vendas de automóveis no País.

Schneider ressaltou que as férias coletivas anunciadas recentemente pelas montadores têm mais a ver com a queda nas vendas para os mercados de exportação do que com o mercado interno.