Pressionada pelas gravadoras, a Apple decidiu comprar a Beats, que fabrica headphones| Foto: Lucas Jackson/Reuters

Cenário

Banda larga ruim e pirataria são obstáculos ao Spotify

A vinda do Spotify ao Brasil, embora tardia, deve ajudar a alavancar os serviços de streaming de música no país. A plataforma sueca chega aos brasileiros depois de ancorar por 56 países, incluindo vizinhos da América do Sul, como Argentina, Chile e Uruguai. Hoje, o Brasil já conta com serviços semelhantes, como o Deezer e o Rdio, mas que ainda estão atrás no número total de usuários do Spotify – são 40 milhões no mundo, sendo 10 milhões pagantes.

Apesar do barulho feito durante o lançamento da plataforma, na última semana, as pretensões do Spotify no Brasil são cercadas de mistério. A empresa, que possui um escritório em São Paulo, não divulga o número de funcionários no país e as metas de ouvintes a serem atingidos. Mas se mostra otimista, mesmo diante de dois obstáculos que cercam o mercado brasileiro: a infraestrutura deficiente de internet móvel e o download ilegal de músicas.

"Nosso produto é feito para usar o mínimo de rede necessário. Fizemos um investimento pesado em um serviço de compressão de dados para transmitir as músicas pela nuvem, tanto que o ouvinte nem percebe. Estamos preparados para isso e acreditamos que a situação [da internet móvel no Brasil] só tende a melhorar", defende o diretor geral do Spotify para a América Latina, Gustavo Diament.

Comportamento

Para Diament, a opção de acessar o catálogo do serviço sem pagar nada por isso – tendo apenas que ouvir spots publicitários – vai driblar a predileção por baixar música de forma ilegal pela internet, assim como ocorreu em outros países. A empresa diz que, na Suécia, a pirataria sofreu uma queda de 25% nos últimos anos, após a adoção em larga escala do streaming. "O nosso grande concorrente aqui no Brasil ainda é a pirataria, mas chegamos no momento em que ainda existe um território enorme no streaming a explorar. O conhecimento do que esse serviço pode fazer pelo usuário é pequeno. Nosso objetivo é aumentar o mercado e depois liderá-lo, gerando incremento de renda para a indústria da música", afirma o executivo.

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Otimismo

O lançamento do Spotify no Brasil foi celebrado pelas distribuidoras e gravadoras de música – pelo menos nas notas oficiais. O presidente da Universal Music, José Antonio Eboli, afirmou que o serviço irá "contribuir em muito para o contínuo desenvolvimento do mercado de música digital no Brasil". O presidente da Som Livre, Marcelo Soares, fez coro às expectativas de popularização da transmissão de músicas pela internet. "Pela primeira vez em muitos anos, a indústria da música se vê otimista com o futuro, e o streaming é a grande razão para isso."

Gustavo Diament, diretor geral do Spotify:
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A última semana foi movimentada para a indústria fonográfica e a legião de donos de smartphones que carregam os fones de ouvido como um item de primeira necessidade. No mesmo dia em que o Spotify, serviço pioneiro de streaming de músicas, anunciou sua chegada ao Brasil, a Apple divulgou a compra por US$ 3 bilhões da Beats, empresa que produz caros e estilosos headphones, naquela que se tornou a maior aquisição da história da companhia fundada por Steve Jobs.

INFOGRÁFICO: Conheça os principais serviços de streaming de música já disponíveis no Brasil

A vinda ao país da empresa sueca e o negócio da criadora do iPhone são uma amostra das disputas que hoje cercam o mercado de transmissão de músicas pela internet e têm afetado diretamente o faturamento de artistas e gravadoras.

O interesse da Apple na Beats, fundada pelo rapper Dr. Dre e o produtor musical Jimmy Iovine, não está direcionado aos fones extravagantes, mas sim ao serviço de streaming que a dupla lançou no início do ano e, em três meses, angariou 250 mil usuários – isso que nem chegou ao Brasil. A expectativa é que, por meio da nova aquisição, a Apple consiga ganhar terreno e recuperar o prejuízo, literalmente. Enquanto as assinaturas de serviços de streaming tiveram um salto de 51% em 2013, os downloads de músicas, como os feitos por meio da iTunes, caíram 2,1%. Os dados são da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, da sigla em inglês).

Novo modelo

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O cenário é incômodo para a Apple, que, apesar de ter ajudado a salvar a indústria musical em 2003, com sua loja virtual, "dormiu" no ponto e viu concorrentes menores surgirem com um novo modelo de negócios, mais atraente e lucrativo. As próprias gravadoras passaram a pressionar a companhia para que ela aderisse ao streaming – tanto que a aquisição da Beats já era prevista pelo mercado há meses.

Como parte do negócio, tanto Iovine quanto Dre se juntarão à Apple para "guiá-­la" neste novo caminho. "A música está morrendo do modo como a conhecemos. Ela não tem crescido da maneira que todos queremos que ela cresça", reconheceu o vice-­presidente-sênior de softwares e serviços para internet da Apple, Eddy Cue, em conferência na última quarta-feira.

Artistas

Hoje, as assinaturas de streaming são a fonte de receita que cresce mais rapidamente para a indústria fonográfica. Nos Estados Unidos, um usuário gasta de US$ 25 a US$ 35 por ano em compras de músicas. Por outro lado, um assinante gasta cerca de US$ 100 por ano para ouvir artistas pela nuvem.

Parte desse valor vai para o bolso dos músicos e das gravadoras. Desde sua fundação, em 2008, o Spotify gerou cerca de U$ 1 bilhão em royalties referentes a direitos autorais para artistas, compositores, gravadoras e editoras musicais. O modelo de negócios do serviço prevê a remuneração de acordo com a quantidade de reproduções das músicas. Atualmente, o Spotify e a Pandora (ainda inédito no Brasil), os dois serviços mais populares no mundo, reúnem juntos quase 100 milhões de usuários ativos.

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