O Banco Central jogou de uma vez por todas a toalha em relação à alta da inflação deste ano. Desde o final de 2014, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, alertava que a pressão sobre os preços seria forte no início de 2015. Como alento, pregava que haveria um longo período de declínio do IPCA ainda este ano. Nesta quinta-feira (12), no entanto, esse otimismo cedeu espaço a um cenário mais realista: a inflação só vai ceder em 2016.
“Manter o crescimento do Brasil é minha obsessão”, diz Dilma
- rio de janeiro
O momento é de dificuldades estruturais, mas o Brasil tem “bases sólidas”. A afirmação é da presidente Dilma Rousseff, que admitiu nesta quinta-feira (12) que as políticas de estímulo à economia para enfrentar a crise internacional sacrificaram as contas públicas. Segundo ela, o país não tem mais recursos para combater a desaceleração. E, por isso, o ajuste fiscal é importante, afirmou ela, na inauguração da primeira etapa das obras de expansão do Porto do Rio. A presidente se disse pessoalmente obcecada por manter o crescimento do país. “Essa eu diria que é a minha obsessão. Farei tudo para que o Brasil esteja no ritmo de crescimento.”
A “queda da ficha” do BC foi demonstrada na ata divulgada sobre a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que ocorreu semana passada e aumentou a taxa básica de juros para 12,75% ao ano. Os diretores da instituição retiraram do documento essa expectativa de desaceleração dos preços ainda este ano.
Ao mesmo tempo, o colegiado informou que a projeção para o IPCA de 2015 subiu e segue acima do centro da meta de 4,5%. Para 2016, é esperado um refresco, apesar de o cálculo também estar mais alto do que o objetivo perseguido pela autarquia. A ata, inclusive, é mais amena ao se referir ao caminho que a inflação percorrerá até atingir a meta no ano que vem.
Outro vilão
Tão vilão para o IPCA quanto os preços administrados é o dólar, que ficou relegado a um segundo plano na ata. Apesar de no dia da reunião a moeda ter fechado em R$ 2,979, os diretores escolheram uma cotação bem inferior, de R$ 2,85 para usar em seus exercícios para balizar a inflação. O mais adequado seria adotar uma taxa de R$ 3,00.
O documento substitui a avaliação de que decisões futuras de política monetária serão tomadas para assegurar a convergência “no próximo ano” para “ao longo” de 2016 – possibilidade que não está nas contas dos analistas do mercado financeiro. Os números exatos só serão revelados no fim deste mês, mas, no setor privado, a expectativa é de que o IPCA suba 7,77% em 2015 e 5,51% em 2016.
Os economistas contam com mais uma alta da Selic no mês que vem. A dúvida é se será de mais meio ponto porcentual (para 13,25% ao ano) ou mais branda, de 0,25 pp (13,00%). Até porque o BC mantém a promessa de que continuará a trabalhar para conter uma contaminação da alta do dólar e dos preços administrados pelo governo para os demais.
Carta ao ministro
Essa admissão do BC sobre o comportamento da inflação engrossa as apostas de que, pela primeira vez em 11 anos, o presidente terá de escrever uma carta ao ministro da Fazenda explicando os motivos que o levaram a descumprir sua missão. Além disso, alimenta o debate de que a autoridade monetária poderia voltar a adotar uma meta ajustada, com mais folga para 2015.
A correção atual dos preços administrados – represados nos últimos meses – é o centro do debate. Na ata, o tema é abordado em vários trechos. O BC projeta alta de 10,7% este ano e atribui a esses itens a culpa de parte importante da alta da inflação de agora. Também enfatiza que são fundamentais para a decisão sobre os próximos passos do Copom.
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