O dólar fechou em alta de cerca de 1% nesta quinta-feira (12) e voltou a renovar as máximas em quase onze anos, em meio às persistentes preocupações com a situação política e econômica do Brasil e à incerteza sobre o futuro do programa de intervenções diárias do Banco Central no câmbio.
Com isso, a moeda norte-americana descolou-se dos mercados externos, onde perdeu força em meio a expectativas menores de que o Federal Reserve comece a elevar os juros já em junho.
Depreciação adicional do câmbio parece indispensável, diz economista
O chefe do Centro de Estudos Monetários (CEM) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), José Júlio Senna, avalia que, diante do cenário atual, uma depreciação cambial adicional “parece absolutamente indispensável”. Diante disso, o economista afirma que o Banco Central tem responsabilidade redobrada.
“O BC deveria se preocupar com a meta (de inflação) e com a composição, a relação de preços de non-tradables (bens não negociáveis internacionalmente) e tradables (bens negociáveis)”, disse nesta quinta-feira (12), durante o 1º Seminário de Política Monetária, realizado pela FGV no Rio.
Para ele, é preciso rigor redobrado no combate à inflação de non-tradables, com espaço para o real ainda mais fraco. Segundo Senna, o reequilíbrio externo depende de melhora no preço relativo de tradables e non-tradables. Ele lembrou que nos últimos quatro anos o dólar está se fortalecendo. “O que está acontecendo é que a inflação de tradables não se mexe” disse.
O economista avalia ainda que a saída para o Brasil por meio das exportações está “muito difícil”. “A economia mundial, o comércio internacional e os preços de commodities não ajudam”, afirmou.
O chefe do CEM acrescentou que os preços baixistas são vindos das commodities. “No sentido contrário temos a depreciação do real. A priori, o efeito líquido disso é desconhecido”.
O dólar subiu 1,08%, a R$ 3,1615 na venda, após chegar a cair mais de 1% e atingir R$ 3,0764 na mínima da sessão. Trata-se do maior nível de fechamento desde 14 de junho de 2004, quando ficou em R$ 3,170.
Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de US$ 1,6 bilhão.
“De maneira geral, o dólar está no meio de um processo de mudança de patamar, em uma trajetória de alta firme. Dá para imaginar um alívio pontual, não uma recuperação consistente”, explicou o economista-chefe da INVX Global Asset Management, Eduardo Velho.
Piora de ações da Petrobras veta nova alta do Ibovespa
A bolsa paulista não sustentou o viés positivo da primeira etapa do dia e fechou em leve queda nesta quinta-feira (12), em meio à piora das ações da Petrobras, descolando-se do viés ascendente dos negócios em Wall Street.
O Ibovespa encerrou com variação negativa de 0,05%, a 48.880 pontos, após ter avançado 1,5% no melhor momento da sessão. O volume financeiro do pregão somou R$ 6,6 bilhões.
As preferenciais da Petrobras caíram 3,3% e as ordinárias recuaram 2,24%, após subirem mais de 3% na primeira etapa do dia.JBS também pressionou, com queda de 1,61%, diante de realização de lucros, passada a divulgação do resultado no último trimestre de 2015. Os dados foram considerados fortes por analistas, mas o papel acumula ganho ao redor de 15% no ano.
Marcopolo, por sua vez, disparou 12,08% em meio à publicação de minuta da resolução que regulamentará o modelo de autorização das linhas interestaduais e internacionais de transporte rodoviário.
Cenário externo
O movimento contrastou com a queda do dólar nos mercados externos, que refletia a expectativa de que a manutenção de juros mais baixos nos EUA sustente a atratividade de papéis de outros países. Essa perspectiva ganhou mais força nesta manhã após dados fracos sobre as vendas no varejo norte-americano.
Globalmente, “o dólar está se enfraquecendo hoje (nesta quarta) enquanto agentes do mercado consideram o risco de que a força recente do dólar desacelere o ritmo das altas de juros (nos EUA)”, escreveram os analistas do Scotiabank Eric Theoret e Camilla Sutton em nota a clientes.
Mas investidores continuaram apreensivos no mercado brasileiro, em meio a temores de que a resistência política à presidente Dilma Rousseff dificulte ainda mais o ajuste fiscal. Dúvidas sobre o futuro do programa de intervenções diárias do Banco Central no câmbio, marcado para durar até pelo menos o fim deste mês, também sustentaram as preocupações.
Atuação do BC
Na véspera, a incerteza sobre a atuação do BC ganhou mais corpo após o Tesouro aceitar, em leilão de troca de Notas do Tesouro Nacional - Série B (NTN-Bs, títulos corrigidos pela inflação oficial), ofertas de Notas do Tesouro Nacional - Série A3 (papéis indexados à variação cambial).
A operação ajudou a elevar o dólar na sessão passada, uma vez que os investidores que detinham esses papéis foram ao mercado para cobrir sua exposição. Além disso, o leilão deu força à percepção de que o governo entende que o dólar não deve parar de subir tão cedo.
“Se o governo achar que o dólar pode subir mais, é melhor pagar a variação cambial de agora do que a que pode vir”, explicou o operador de papéis de uma corretora nacional. Essa percepção, por sua vez, reforçou as expectativas de que o BC pode não estender seu programa de intervenções diárias.
“Antes, você tinha o BC segurando o câmbio aos trancos e barrancos. Agora, indicou que vai deixar o dólar ir aonde for necessário pra equilibrar a economia”, acrescentou.
O BC vendeu a oferta total de swaps cambiais pelo leilão diário desta manhã, colocando o equivalente a US$ 98 milhões no mercado. Foram vendidos 1.400 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 600 para 1º de março de 2016.
A autoridade monetária também vendeu a oferta integral no leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de abril. Até agora, foram rolados cerca de 32% do lote total, que corresponde a US$ 9,964 bilhões.
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