No dia em que o dólar atingiu o maior valor em quase 12 anos, o Banco Central saiu ontem do silêncio e mandou um recado direto ao mercado financeiro de que há exagero na disparada da cotação da moeda americana. Fontes do BC, ouvidas pelo ‘Broadcast’, serviço em tempo real da ‘Agência Estado’, alertaram que mais “cedo ou mais tarde” o mercado fará a correção das taxas.
Para o BC, há muita “gordura” na taxa de câmbio, que provoca impacto nas taxas de juros futuras, adicionando prêmios aos ativos. A avaliação é de que a instituição tem procurado mostrar que o processo de ajuste no câmbio, que ocorre hoje na economia brasileira, tem de se dar de uma maneira “suave”.
Não haveria, no entendimento da autoridade monetária, justificativa nos fundamentos do País para que a alta do dólar “ande mais rápido” no Brasil do que nos outros países.
O dólar fechou ontem com alta de 3,36%, cotado a R$ 3,26, o maior valor desde 2 de abril de 2003 e os agentes do mercado reclamam que o BC não está agindo para conter a volatilidade excessiva das taxas.
O Banco Central contesta a avaliação de que está parado assistindo ao movimento do mercado e considera que a disparada de ontem reflete uma visão de curto prazo em decorrência das especulações em torno da reunião do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos (Fed, na sigla em inglês). “É claro que esse caminhar do dólar está olhando para a semana que vem. É uma visão de curto prazo”, disse uma fonte graduada do BC.
Já se sabe que, na próxima reunião, o Fed vai mudar o seu comunicado em relação ao início do processo da alta de juros nos Estados Unidos, mas essa ação não significa, na avaliação do governo, que se esteja na iminência de aumento.
A expectativa é de que o BC americano só comece a elevar os juros em setembro, mais para o fim do ano. Em razão desse movimento esperado do Fed, os agentes do mercado estão se antecipando comprando dólar para proteção.
No Brasil, no entanto, esse processo de alta estaria “esticado” demais, na avaliação da autoridade monetária. “É importante que o mercado saiba que o BC entende que é uma exagero. Essa é a mensagem”, afirmou uma fonte do BC, ressaltando que a instituição está atenta e monitorando o quadro.
Outra fonte do BC destacou que o índice DXY, que mede o valor do dólar comparado a uma cesta de moedas, está no nível mais alto desde março de 2003, o que reforça o quadro atual de que o fenômeno é global e não reflete uma fraqueza do Brasil.
Swaps
O nervosismo do dólar no mercado também reflete as especulações em torno da expectativa do fim do programa de oferta de swap cambial do BC, mais conhecido com “ração diária”. O BC ainda não tomou a decisão sobre a renovação ou não do programa, que termina no final de março. O anúncio só será feito no final do mês, porque causa impacto no futuro. “E se tem mais informações sobre o futuro quanto mais próximos estivermos do futuro. Por isso, é preciso empurrar mais para a frente”, justificou a fonte.
O BC avalia que o câmbio flutuante é a primeira linha de defesa para evitar volatilidade excessiva. E o programa de swap cambial tem como objetivo principal oferecer proteção ao mercado e, com isso, suavizar movimentos do mercado “O BC não está parado. Está fazendo leilão de US$ 100 milhões de swap cambial todo dia”, disse.
As declarações de fontes do BC fizeram a cotação do dólar no mercado futuro recuar, mas a moeda se fortaleceu novamente com comentários de outra fonte da equipe econômica, de que o governo não vai intervir no câmbio. Segundo essa fonte, o mercado está testando o BC. “O governo não vai intervir no câmbio”, disse a fonte do Ministério da Fazenda.
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