O Banco Central e o Ministério da Fazenda afinaram ainda mais o discurso nesta sexta-feira e pavimentaram o caminho para que o ciclo de aperto monetário comece já na próxima semana, ao enfatizarem que o governo não vai deixar a inflação sair do controle.
Participando de eventos em cidades diferentes, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defenderam que a escalada de preços não será tolerada, o que, na avaliação mercado, mostrou uma sintonia para que o Comitê de Política Monetária (Copom) eleve a Selic no seu próximo da semana que vem, e não em maio, como ainda prevê uma parte dos agentes econômicos.
O principal sinal dado por Tombini, segundo especialistas, foi a inclusão da palavra "atentamente" na sua declaração sobre o monitoramento feito pelo BC dos indicadores econômicos para decidir sobre o futuro da política monetária. Especialistas lembraram que essa foi a senha para, no passado recente, o Copom começar um ciclo de aperto.
"O Banco Central tem dito que não há e não haverá tolerância com a inflação. Nós estamos nesse momento monitorando atentamente todos os indicadores e obviamente no futuro vamos tomar decisões sobre o melhor curso para a política monetária", afirmou Tombini, no Rio de Janeiro, em um pouco usual comentário a menos de uma semana da reunião do Copom.
Sua fala, feita no início desta tarde, jogou ainda mais combustível no mercado futuro de juros, com as taxas dos DIs mais curtas disparando, fortalecendo as apostas de que o Copom elevará a Selic --hoje na mínima histórica de 7,25 por cento ao ano-- na reunião dos próximos dias 16 e 17.
A taxa básica de juros não sobe desde meados de 2011, quando o BC deu início à série de dez cortes seguidos até outubro passado e que levou a Selic para seu atual patamar, a fim de estimular a atividade econômica.
Agora, o cenário é outro. Mesmo com a recuperação econômica sem sinais robustos, a inflação permanece em níveis muito elevados, tendo estourado o teto da meta oficial em março, com o IPCA chegando a 6,59 por cento em 12 meses, mesmo com todos os esforços do governo para tentar segurar os preços.
Mais recentemente, a equipe econômica e a própria presidente Dilma Rousseff endureceram o discurso contra a inflação, enquanto o BC evidenciava a necessidade de ter cautela na condução da política monetária. Diante disso, uma boa parte dos agentes econômicos acreditava que a Selic subiria somente no encontro de maio do Copom.
Mas esse sinal parece ter perdido força. Para o estratagista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno, o fato de Tombini ter dito nesta sexta-feira que monitorará "atentamente" os dados econômicos deixou claro que a porta está aberta para elevação da Selic já na próxima semana.
"Em todas as declarações até agora, Tombini não tinha usado essa palavra. Ele sabe que esse atentamente, num comunicado (do Copom), seria para indicar que subiria os juros", afirmou Rostagno, referindo-se a outros momentos em que o BC começou a elevar a Selic.
A fala do presidente do BC já fez alguns especialistas mudarem suas projeções sobre a Selic, antecipando a alta de maio para abril. É o caso da Nomura Securities, que agora vê a taxa básica subindo 0,50 ponto percentual na próxima semana, mas mantendo a perspectiva de que fechará o ano a 8,75 por cento.
MANTEGA EM LINHA
Pouco antes das declarações de Tombini, Mantega já havia reforçado, na visão do mercado, que o ciclo de aperto começaria agora. O ministro disse, durante evento em São Paulo, que o BC poderá elevar a Selic se considerar necessário para combater a inflação.
Repetiu ainda que o governo tomará todas as medidas necessárias para segurar a escalada dos preços e impedir a dispersão da inflação por meio das expectativas.
"As medidas que forem necessárias pelo governo, não titubeamos em tomar medidas. Inclusive posso dizer que, mesmo as medidas que são consideradas menos populares, são tomadas, por exemplo, em relação às taxas juros, quando isso é necessário", disse Mantega durante palestra em São Paulo.
O ministro afirmou ainda o calendário político não influencia as decisões de política monetária. "Se vocês olharem ao longo do tempo, nós elevamos juros em véspera de eleição. Por exemplo, em 2010 nós elevamos taxa de juros. Portanto, não nos pautamos por calendário político", comentou Mantega.
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